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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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Lugar <strong>da</strong> história na socie<strong>da</strong>de africana<br />

eles são recorrentes. Na savana su<strong>da</strong>nesa, entre os adeptos <strong>da</strong>s religiões africanas<br />

tradicionais, geralmente conta -se a i<strong>da</strong>de pelo número <strong>da</strong>s estações chuvosas.<br />

Para indicar que um homem é idoso, fala -se do número de estações <strong>da</strong>s chuvas<br />

que ele viveu ou, através de uma imagem, que ele “bebeu muita água”.<br />

Também foram elaborados alguns sistemas de cálculo mais aperfeiçoados 7 .<br />

Mas o passo decisivo nesse campo só será <strong>da</strong>do pela utilização <strong>da</strong> escrita. Ain<strong>da</strong><br />

que a existência de uma classe letra<strong>da</strong> absolutamente não garanta a toma<strong>da</strong> de<br />

consciência de uma história coletiva por parte de todo povo, ela ao menos permite<br />

estabelecer pontos de referência que organizam o curso do fluxo histórico.<br />

Por outro lado, a introdução <strong>da</strong>s religiões monoteístas basea<strong>da</strong>s num<br />

determinado processo histórico contribuiu para fornecer uma outra representação<br />

do passado coletivo, “modelos” que apareciam geralmente nas entrelinhas <strong>da</strong>s<br />

narrativas. Por exemplo, sob a forma de ligações arbitrárias <strong>da</strong>s dinastias às<br />

fontes islâmicas cujos valores e ideais servirão aos profetas negros para modificar<br />

o curso dos acontecimentos em seu país de origem.<br />

Mas a grande reviravolta na concepção africana do tempo se opera sobretudo<br />

pela entra<strong>da</strong> desse continente no universo do lucro e <strong>da</strong> acumulação monetária.<br />

Só agora o sentido do tempo individual e coletivo se transforma pela assimilação<br />

dos esquemas mentais em vigor nos países que influenciam os africanos<br />

econômica e culturalmente. Descobrem então que, em geral, é o dinheiro que<br />

faz a história. O homem africano, tão próximo de sua história que tinha a<br />

impressão de forjá -la ele próprio em suas microssocie<strong>da</strong>des, enfrenta agora, ao<br />

mesmo tempo, o risco de uma gigantesca alienação e a oportuni<strong>da</strong>de de ser<br />

co autor do progresso global.<br />

7 Ivor WILKS mostra, assim, ao criticar o livro de D. P. HENIGE, The cronology of Oral Tradition: Quest<br />

for a Chimera, que os Akan (Fanti, Ashanti…) dispunham de um sistema de calendário complexo, com<br />

semana de sete dias, mês de seis semanas e ano de nove meses, ajustado periodicamente ao ciclo solar<br />

segundo um método ain<strong>da</strong> não completamente esclarecido. “Era então possível no esquema do calendário<br />

Akan referir -se, por exemplo, ao 18 o dia do quarto mês do terceiro ano do reinado de Ashantihene Osei<br />

Bonsu”. Método de <strong>da</strong>tação ain<strong>da</strong> corrente nos países europeus no século XVIII e mesmo no século<br />

XIX. Cf. WILKS, I. 1975, p. 279 e segs.<br />

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