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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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A tradição viva<br />

Ca<strong>da</strong> povo possui como herança dons particulares, transmitidos de geração<br />

a geração através <strong>da</strong> iniciação. Assim, os Dogon do Mali têm a reputação de<br />

conhecer o segredo <strong>da</strong> lepra, que sabem curar muito rapi<strong>da</strong>mente sem deixar<br />

uma única marca, e o segredo <strong>da</strong> cura <strong>da</strong> tuberculose. Além disso, são excelentes<br />

“restauradores”, pois conseguem recolocar os ossos quebrados, mesmo em caso<br />

de fraturas graves.<br />

Os animadores públicos ou “griots”(“dieli” em bambara)<br />

Se as ciências ocultas e esotéricas são privilégio dos “mestres <strong>da</strong> faca” e<br />

dos chantres dos deuses, a música, a poesia lírica e os contos que animam as<br />

recreações populares, e normalmente também a história, são privilégios dos<br />

griots, espécie de trovadores ou menestréis que percorrem o país ou estão ligados<br />

a uma família.<br />

Sempre se supôs – erroneamente – que os griots fossem os únicos<br />

“tradicionalistas” possíveis. Mas quem são eles?<br />

Classificam -se em três categorias:<br />

• os griots músicos, que tocam qualquer instrumento (monocórdio, guitarra,<br />

cora, tantã, etc.). Normalmente são excelentes cantores, preservadores,<br />

transmissores <strong>da</strong> música antiga e, além disso, compositores.<br />

• os griots “embaixadores” e cortesãos, responsáveis pela mediação entre as<br />

grandes famílias em caso de desavenças. Estão sempre ligados a uma família<br />

nobre ou real, às vezes a uma única pessoa.<br />

• os griots genealogistas, historiadores ou poetas (ou os três ao mesmo tempo),<br />

que em geral são igualmente contadores de história e grandes viajantes, não<br />

necessariamente ligados a uma família.<br />

A tradição lhes confere um status social especial. Com efeito, contrariamente<br />

aos Horon (nobres), têm o direito de ser cínicos e gozam de grande liber<strong>da</strong>de de<br />

falar. Podem manifestar -se à vontade, até mesmo impudentemente e, às vezes,<br />

chegam a troçar <strong>da</strong>s coisas mais sérias e sagra<strong>da</strong>s sem que isso acarrete graves<br />

consequências. Não têm compromisso algum que os obrigue a ser discretos ou<br />

a guar<strong>da</strong>r respeito absoluto para com a ver<strong>da</strong>de. Podem às vezes contar mentiras<br />

descara<strong>da</strong>s e ninguém os tomará no sentido próprio. “Isso é o que o dieli diz!<br />

Não é a ver<strong>da</strong>de ver<strong>da</strong>deira, mas a aceitamos assim”. Essa máxima mostra muito<br />

bem de que modo a tradição aceita as invenções dos dieli, sem se deixar enganar,<br />

pois, como se diz, eles têm a “boca rasga<strong>da</strong>”.<br />

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