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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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<strong>História</strong> e linguística<br />

como foi dito antes. O processo de migração misturou aqui, como na área nilo-<br />

-chádica, povos de origens diferentes; o parentesco entre eles é estabelecido<br />

talvez depressa demais, na ausência de informações mais precisas que esclareçam<br />

a história e o historiador.<br />

É nesse plano, aliás, que são amplos os atuais limites <strong>da</strong> linguística como<br />

instrumento de investigação histórica. O pesquisador se confronta aqui com<br />

o duplo obstáculo mencionado acima. A pesquisa não atingiu seus objetivos<br />

porque se conserva parcial e embrionária. Além disso, seus resultados provisórios<br />

são frequentemente inexploráveis porque falsificados pela ideologia e por<br />

perspectivas deformantes.<br />

A ideologia deformante<br />

A história é por excelência o lugar <strong>da</strong> ideologia. Os primeiros trabalhos sobre<br />

as línguas e o passado <strong>da</strong> <strong>África</strong> coincidiram com a expansão colonial europeia.<br />

Assim, foram fortemente marcados pelas visões hegemonistas <strong>da</strong> época.<br />

O discurso etnocentrista exprime a preocupação instintiva de julgar valores<br />

de civilizações com referência a si mesmo. Ele levou à apropriação dos fatos<br />

de civilização mais marcantes para legitimar -se como pensamento e poder<br />

dominantes no mundo. As teses sobre a primazia do indo -europeu, do ariano<br />

ou do branco civilizadores testemunham um excesso cujos ecos profundos são<br />

encontrados ain<strong>da</strong> hoje em muitas obras de história e de linguística <strong>da</strong> <strong>África</strong> 36 .<br />

É por isso que o Egito foi por muito tempo colocado entre parênteses com<br />

relação ao resto do continente. Com base em especulações feitas ao acaso,<br />

continua -se às vezes a atribuir -lhe menos i<strong>da</strong>de, em benefício <strong>da</strong> Mesopotâmia<br />

ou de outros centros supostamente indo -europeus ou semitas. Frequentemente,<br />

foram procurados imaginários iniciadores <strong>da</strong> arte do Benin. Montou -se uma<br />

teoria “camítica” 37 , peça por peça, com a finali<strong>da</strong>de de explicar, através de<br />

influências externas, qualquer fenômeno cultural positivo na <strong>África</strong> negra.<br />

36 Ver adiante J. H. GREENBERG sobre essa questão.<br />

37 As palavras “camita” e “camítico” foram largamente utiliza<strong>da</strong>s no mundo ocidental durante vários séculos,<br />

tanto no vocabulário erudito como no cotidiano. Procedem de leituras deformantes e tendenciosas<br />

<strong>da</strong> Bíblia, <strong>da</strong>s quais se originou o mito <strong>da</strong> maldição dos descendentes negros de Cã. Esses termos<br />

adquiriram uma significação aparentemente menos negativa (pelo menos sem conotação religiosa)<br />

graças à pesquisa de linguistas e etnólogos no século XIX, mas nem por isso deixaram de funcionar<br />

como critério de discriminação entre certos negros considerados superiores e os outros. Em todo caso, o<br />

comitê científico internacional estimula os estudos críticos em an<strong>da</strong>mento, que tratam dos usos históricos<br />

desse vocabulário que só deve ser utilizado com reservas expressas.<br />

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