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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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A tradição viva<br />

O mal -entendido provavelmente advém <strong>da</strong> ambivalência do termo francês<br />

“griot”, que pode designar o conjunto dos nyamakala (que incluem os dieli) e,<br />

mais frequentemente, apenas a casta dos Dieli.<br />

A tradição declara que os nyamakala são todos subaa, termo que designa um<br />

homem versado em conhecimentos ocultos a que só têm acesso os iniciados,<br />

uma espécie de “ocultista”. A tradição exclui desta designação os dieli, que não<br />

seguem uma via iniciatória própria. Portanto, os nyamakala -artesãos são subaa.<br />

Dentre estes, encontra -se o garanke, trabalhador do couro, que possui a reputação<br />

de ser um subaga, feiticeiro no mau sentido do termo.<br />

Quanto a mim, sou propenso a acreditar que os primeiros intérpretes europeus<br />

confundiram os dois termos subaa e subaga (semelhantes na pronúncia) e que a<br />

ambivalência do termo “griot” fez o resto.<br />

Uma vez que a tradição declara que “todos os nyamakala são subaa (ocultistas)”,<br />

os intérpretes devem ter entendido “todos os nyamakala são subaga (feiticeiros)”,<br />

o que, devido ao duplo uso, coletivo ou particular, <strong>da</strong> palavra “griot”, tornou -se<br />

“todos os ‘griots’ são feiticeiros”. Daí o mal -entendido.<br />

Seja como for, a importância do dieli não se encontra nos poderes de bruxaria<br />

que ele possa ter, mas em sua arte de manejar a fala, que, aliás, também é uma<br />

forma de magia.<br />

Antes de deixarmos os griots, assinalemos algumas exceções que podem causar<br />

confusão. Por vezes, alguns tecelões deixam de exercer seu ofício tradicional<br />

para se tornarem tocadores de guitarra. Os Peul chamam -nos de Bammbaado,<br />

literalmente “aquele que é carregado nas costas”, porque suas despesas são<br />

sempre pagas por outrem ou pela comuni<strong>da</strong>de. Os Bammbaado, que são sempre<br />

contadores de histórias, também podem ser poetas, genealogistas e historiadores.<br />

Alguns lenhadores também podem trocar suas ferramentas por uma guitarra<br />

e se tornar excelentes músicos e genealogistas. Bokar Ilo e Idriss Nga<strong>da</strong>, que,<br />

pelo que sei, se encontravam entre os grandes genealogistas do Alto Volta, eram<br />

lenhadores que se tornaram músicos. Mas trata -se aqui de exceções.<br />

Do mesmo modo, alguns nobres desacreditados podem se tornar animadores<br />

públicos, mas não músicos 14 , e são chamados de Tiapourta (em bambara e em<br />

fulfulde). Assim, são mais impudentes e cínicos do que o mais impudente dos<br />

griots, e ninguém leva a sério seus comentários. Pedem presentes aos griots com<br />

tal insistência que estes últimos chegam a fugir ao ver um Tiapourta …<br />

14 Cabe lembrar que os Horou (nobres), peul ou bambara, jamais tocam música, pelo menos em público.<br />

Os Tiapourta conservaram, em geral, esse costume.<br />

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