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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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266 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

traz consigo e que não depende necessariamente de uma obra ou de um discurso<br />

sistemático. Nesse plano, a pesquisa opera nos níveis infra e supralinguístico.<br />

Decifra, a partir do vocabulário e <strong>da</strong> divisão do pensamento, os processos de<br />

formalização, conceptualização e estruturação de uma língua, as diferentes<br />

formas de conhecimento dentro <strong>da</strong>s quais se cristalizam a visão de mundo e<br />

a história própria à comuni<strong>da</strong>de que pratica um certo falar. A etnolinguística<br />

acaba por revelar sistemas: concepção metafísica, ética, ontologia, estética, lógica,<br />

religião, técnicas, etc.<br />

Assim, a literatura escrita ou oral sobre o passado dos Haussa, com seus<br />

documentos religiosos, fábulas e práticas jurídicas, médicas, metalúrgicas e<br />

educacionais, fornece indicações não apenas sobre a evolução do conteúdo do<br />

pensamento dos Haussa mas também sobre sua história e sua cultura.<br />

Nas civilizações predominantemente orais, em que os textos de referência<br />

são raros, a interpretação diacrônica basea<strong>da</strong> na comparação de textos de épocas<br />

diferentes praticamente não existe. A linguística torna -se, então, um meio<br />

privilegiado de redescobrir o patrimônio intelectual, uma escala para retroceder<br />

no tempo.<br />

As culturas de expressão oral localiza<strong>da</strong>s pela antropologia semântica<br />

apresentam não apenas obras a serem coleta<strong>da</strong>s e registra<strong>da</strong>s, mas também<br />

autores e as respectivas áreas de especialização. To<strong>da</strong> cultura africana oral<br />

ou escrita – deixou, como a dos Wolof, seu filósofo, como N<strong>da</strong>amal Gosaas,<br />

seu politicólogo, como Saa Basi ou Koco Barma, seu mestre <strong>da</strong> palavra e <strong>da</strong><br />

eloquência, seu mestre <strong>da</strong> epopeia ou do conto, como Ibn Mbeng 40 , mas também<br />

seus inventores de técnicas em matéria de farmacopeia, medicina, agricultura<br />

ou astronomia 41 . Esses trabalhos e seus autores constituem excelentes fontes de<br />

análise do dinamismo evolutivo <strong>da</strong> cultura numa socie<strong>da</strong>de sob suas diversas<br />

formas.<br />

A ontologia bantu pode ser decifra<strong>da</strong> e até mesmo interpreta<strong>da</strong> e<br />

sistematiza<strong>da</strong> por referência aos vocábulos bantu sobre o estar no mundo, a<br />

partir do trabalho de elaboração e conceptualização que, através <strong>da</strong>s palavras<br />

e enunciados do bantu, dá forma às concepções que essa língua tem acerca de<br />

tais fenômenos.<br />

40 Todos célebres personagens históricos <strong>da</strong> cultura wolof.<br />

41 As obras de S. JOHNSTON sobre os Ioruba, de TEMPELS sobre os Bantu, de M. GRIAULE<br />

sobre os Dogon, de TRAORE sobre medicina africana, de M. GUTHRIE sobre a metalurgia, etc.,<br />

constituem, com os “clássicos literários registrados” importantes contribuições à antropologia semântica.<br />

Cf. DIAGNE, P. 1972.

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