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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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A arte pré -histórica africana<br />

indispensável, pois os objetos são representados de maneiras diferentes segundo<br />

as culturas. Quanto mais um signo está afastado do objeto designado, mais ele<br />

é específico de uma cultura, mais ele serve de indicador. Exatamente como uma<br />

mesma onomatopeia que, presente em várias línguas, não caracteriza nenhuma<br />

delas de modo especial; na<strong>da</strong> mais é que o reflexo de uma mesma natureza<br />

comum. Isso não ocorre com uma palavra típica de uma determina<strong>da</strong> língua.<br />

Podemos então considerar as grandes galerias de arte como estações emissoras<br />

de mensagens culturais. Mas, quais são os receptores? Será que essas estações<br />

não emitiam mensagens sobretudo para os próprios produtores e também para<br />

o conjunto de sua socie<strong>da</strong>de, a qual nos deixou uma quanti<strong>da</strong>de demasiado<br />

pequena de outros vestígios que pudessem facilitar a leitura e a decodificação<br />

dessas mensagens? Em resumo, a problemática e os métodos de exploração<br />

estética devem chegar a uma definição dos tipos de cultura que são a base<br />

dessas manifestações parciais. Delimitando os espaços culturais em que estão<br />

mergulhados, podemos reconstituir o contexto histórico em que elas se inseriam.<br />

É por esse motivo que a descrição de pinturas rupestres africanas por meio<br />

de fórmulas ou legen<strong>da</strong>s, como Os juízes de paz, A <strong>da</strong>ma branca, O arrancador<br />

de dentes, Josefina vendi<strong>da</strong> pelas irmãs, Os marcianos, é inadequa<strong>da</strong>, pois transfere<br />

e aliena todo um conjunto cultural, interpretando -o através do código de um<br />

único observador ou de uma outra civilização 16 . Podemos estabelecer como<br />

princípio geral que a arte pré -histórica africana deve ser interpreta<strong>da</strong> sobretudo<br />

a partir de referências autóctones. Apenas quando a solução para um problema<br />

não for encontra<strong>da</strong> no ambiente espaço -temporal e cultural do lugar, <strong>da</strong> região<br />

ou do continente, é que podemos procurar suas causas em outra parte.<br />

Assim, existem duas abor<strong>da</strong>gens principais para a interpretação <strong>da</strong> arte pré-<br />

-histórica: a idealista e a materialista. Segundo a explicação idealista, essa arte<br />

expressava principalmente a visão de mundo <strong>da</strong>s populações <strong>da</strong> época.<br />

Essas concepções, sozinhas, explicam tanto o conteúdo quanto a própria<br />

execução <strong>da</strong>s representações. E importante, pois, que nos libertemos do jugo<br />

racionalista: “A arte do sul <strong>da</strong> <strong>África</strong>”, escreve Erik Holm, “aparece sob sua<br />

ver<strong>da</strong>deira forma se a consideramos como a manifestação do fervor religioso e<br />

<strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de transcender as coisas; essa foi a metafísica <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de<br />

primitiva e as imagens zoomorfas são apenas uma máscara que disfarça a<br />

16 Sobre esse assunto, ver as observações pertinentes de J. D. LAJOUX, 1977, p. 115 et seqs. Sem negar o<br />

direito ao humor nem a imensa cultura do Abade Breuil e os eminentes serviços que prestou ao estudo<br />

<strong>da</strong> pré -história em geral e <strong>da</strong> <strong>África</strong> em particular, devemos dizer que frequentemente ele se deixou levar<br />

por essa tendência.<br />

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