29.03.2013 Views

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A arte pré -histórica africana<br />

de uma poça de água para beber, o que faz as rãs saltarem. E a agitação brilhante<br />

e patética <strong>da</strong> natureza, onde o homem -rei é o intruso.<br />

Mas o naturalismo dos detalhes jamais exclui o recurso ao essencial e uma<br />

arte <strong>da</strong> composição cênica que deriva de uma espécie de abor<strong>da</strong>gem escultural<br />

<strong>da</strong> pintura. Assim, personagem principal é apresentado em primeiro plano,<br />

dominando os outros, que são relativamente menores. É o caso dos grandes<br />

caçadores mascarados que se destacam <strong>da</strong>s feras por seu tamanho; do faraó<br />

abatendo seus inimigos, ou do oba de Benin engrandecido em relação a seus<br />

súditos.<br />

A ênfase no essencial dá origem às formas simbolistas, antítese do barroco.<br />

Combina<strong>da</strong> com a técnica <strong>da</strong> escultura, produz esse ritmo característico que<br />

dá vi<strong>da</strong> tanto ao búbalo desenhado com um traço seco e despojado, quanto à<br />

mana<strong>da</strong> de bovinos de Jabbaren, <strong>da</strong> qual temos a impressão de ouvir o ruído<br />

surdo dos cascos, a respiração quente e os mugidos.<br />

A atuali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> arte pré ‑histórica africana<br />

Popular e quotidiana, essa arte é anima<strong>da</strong> por um senso de humor que é a<br />

ironia alegre ou amarga <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Esotérica, ela vibra como um fervor místico<br />

levado pelo estilete ou pelo pincel do artista, e nos dá alguns dos mais belos<br />

florões <strong>da</strong> arte universal, como o carneiro com um disco solar, de Boualem,<br />

cuja atitude hierática anuncia o mistério e convi<strong>da</strong> à meditação 39 . Essa dupla<br />

abor<strong>da</strong>gem traduz bem a dupla condição do homem africano moderno: tão<br />

espontâneo e quase trivial no dia -a -dia, tão sério e místico quando tomado pelo<br />

ritmo de uma <strong>da</strong>nça religiosa.<br />

Em suma, a arte pré -histórica africana não está morta. Ela vive, ain<strong>da</strong> que apenas<br />

nos topônimos que perduram. Um vale afluente do Uede Djerat, denominado Tin<br />

Tehed, ou seja, “o lugar <strong>da</strong> jumenta”, é efetivamente marcado por uma bela gravura<br />

de asno. Issoukai -n -Afella tem a fama de ser assombrado por espíritos (djenoun)<br />

talvez porque, diante de um monte de seixos constituídos por arremessos de pedras<br />

votivas, exista uma figura zoomorfa assustadora, que reúne os atributos <strong>da</strong> raposa<br />

aos <strong>da</strong> coruja, sem falar num sexo de tamanho descomunal.<br />

39 É notável que certos autores mencionem a existência de dois carneiros encarregados de proteger o rei<br />

contra o mau -olhado na corte do imperador do Mali, no século XIV. O carneiro existe também em<br />

outras cortes africanas: Meroé, Akan (Gana), Kuba (Zaire) e Kanem (Chade).<br />

779

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!