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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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150 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

esotéricas também podem ser distorci<strong>da</strong>s por razões imperativas, que serão<br />

ain<strong>da</strong> mais imperativas se o colégio que possui o segredo foi um grupo -chave <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de. Devemos ressaltar que, empiricamente, conhecemos até agora muito<br />

poucas tradições esotéricas, e porque a antiga ordem em que têm suas raízes não<br />

desapareceu por completo. As que conhecemos provêm de socie<strong>da</strong>des que têm<br />

sofrido importantes transformações, e muitas tradições sem dúvi<strong>da</strong> desaparecerão<br />

sem deixar registro. To<strong>da</strong>via, a partir de fragmentos que possuímos, podemos<br />

afirmar que certas tradições ogboni <strong>da</strong> nação Ioruba têm sido tão distorci<strong>da</strong>s que<br />

não mais constituem mensagens váli<strong>da</strong>s no que diz respeito às origens do ogboni,<br />

enquanto as tradições biiru, por exemplo, parecem ter maior vali<strong>da</strong>de. Isso se<br />

deve não ao caráter esotérico, mas ao propósito dessas tradições: as primeiras<br />

legitimam um poder forte detido por um pequeno grupo de homens, enquanto<br />

as segun<strong>da</strong>s são apenas a memorização de um ritual prático.<br />

Ca<strong>da</strong> tradição tem sua própria superfície social. Para encontrar as tradições e<br />

analisar a quali<strong>da</strong>de de sua transmissão, o historiador deve, portanto, conhecer,<br />

o mais detalha<strong>da</strong>mente possível, o tipo de socie<strong>da</strong>de que está estu<strong>da</strong>ndo. Deve<br />

examinar to<strong>da</strong>s as suas instituições para isolar as tradições, e também esmiuçar<br />

todos os gêneros literários para obter informações históricas. É o grupo dirigente<br />

de uma socie<strong>da</strong>de que retém a posse <strong>da</strong>s tradições oficiais, e sua transmissão<br />

é geralmente realiza<strong>da</strong> por especialistas, que utilizam meios mnemotécnicos<br />

(geralmente canções) para reter os textos. Às vezes há o controle de colegas<br />

em ensaios privados ou na representação pública associa<strong>da</strong> a uma cerimônia<br />

importante. Os especialistas, entretanto, nem sempre estão ligados ao poder. É<br />

o caso dos genealogistas, dos tamborileiros de chefes ou de reis, dos guar<strong>da</strong>s de<br />

túmulos 2 e dos pregadores de religiões nacionais. Mas há também especialistas<br />

em outros níveis. Entre os Xhosa (<strong>África</strong> do Sul), há mulheres especializa<strong>da</strong>s<br />

na arte de representar histórias engraça<strong>da</strong>s, ntsomi. Há também outros que<br />

sabem fazê -la, mas não se especializam nisso. Estes geralmente tomam parte<br />

em espetáculos populares. Alguns celebrantes de ritos religiosos também são<br />

especialistas em tradições orais: os guar<strong>da</strong>s dos mhondoro shona (Zimbabwe)<br />

conhecem a história dos espíritos confiados à sua guar<strong>da</strong>. Alguns, como os<br />

griots, são trovadores que reúnem tradições em todos os níveis e representam os<br />

textos convencionados, diante de uma audiência apropria<strong>da</strong>, em certas ocasiões<br />

– casamento, morte, festa na residência de um chefe, etc. É raro não haver<br />

especialização, mesmo no nível <strong>da</strong> história <strong>da</strong> terra ou <strong>da</strong> família. Sempre há<br />

2 Em alguns países, essas pessoas fazem parte <strong>da</strong> classe governante; é o caso, por exemplo, do Bend ‑naba<br />

(chefe dos tambores) dos Mossi.

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