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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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A tradição oral e sua metodologia<br />

Já não é tão óbvio que a noção de espaço seja de interesse nesse contexto. Mas<br />

há uma tendência geral a situar a origem de um povo num lugar ou direção de<br />

prestígio: direção “sagra<strong>da</strong>” ou “profana” de acordo com o pensamento de que o<br />

homem evolui do sagrado para o profano ou vice -versa. Ca<strong>da</strong> povo impôs um<br />

sistema de direções à sua geografia. São geralmente os rios que dão o eixo <strong>da</strong>s<br />

direções cardinais. A maioria <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des então fixa a direção de suas aldeias,<br />

às vezes de seus campos (Kukuya, República Popular do Congo), segundo<br />

esse sistema de eixos, que utilizam também para orientar seus túmulos. As<br />

consequências são às vezes inespera<strong>da</strong>s. Um espaço ordenado segundo um único<br />

eixo que faz parte do relevo mu<strong>da</strong> com a disposição relativa dos elementos do<br />

relevo. Aqui, a jusante é a oeste, ali, a norte; aqui, ir em direção ao cume é ir para<br />

leste, ali, para oeste. Não só observamos que as migrações podem vir de direções<br />

privilegia<strong>da</strong>s, como é o caso dos Kuba (Zaire) ou dos Kaguru (Tanzânia), e que<br />

a narrativa correspondente é mais uma cosmologia que uma história, como<br />

também chegamos a encontrar variações nos pontos de origem dependendo<br />

dos acidentes do relevo geográfico. Somente as socie<strong>da</strong>des que se baseiam nos<br />

movimentos do sol para determinar o eixo do espaço podem <strong>da</strong>r informação<br />

exata a respeito dos movimentos migratórios gerais; esses povos infelizmente<br />

são uma minoria, exceto talvez na <strong>África</strong> ocidental, onde a maioria refere -se ao<br />

leste como seu lugar de origem.<br />

A noção de causa está implícita em to<strong>da</strong> tradição oral. Geralmente, é<br />

apresenta<strong>da</strong> na forma de causa imediata e separa<strong>da</strong> para ca<strong>da</strong> fenômeno. Ca<strong>da</strong><br />

coisa tem uma origem, que se situa diretamente no início dos tempos. Pode -se<br />

compreender melhor o que é a causali<strong>da</strong>de examinando -se as causas atribuí<strong>da</strong>s ao<br />

mal. Muito frequentemente elas têm relação direta com a feitiçaria, os ancestrais,<br />

etc., e a relação é imediata. Resulta desse tipo de causali<strong>da</strong>de que a mu<strong>da</strong>nça é<br />

percebi<strong>da</strong> sobretudo em alguns campos claramente definidos, como a guerra,<br />

sucessão real, etc., em que os estereótipos intervêm. Para terminar, salientamos<br />

que esse esboço <strong>da</strong> noção de causa é muito sumário e deve ser complementado<br />

por noções de causa mais complexas mas paralelas a estas e que afetam somente<br />

instituições sociais menores.<br />

Quanto à ver<strong>da</strong>de histórica, está sempre estreitamente liga<strong>da</strong> à fideli<strong>da</strong>de do<br />

registro oral transmitido. Assim, ela pode ser ou o consenso dos governantes<br />

(Idoma, Nigéria), ou a constatação de que a tradição está em conformi<strong>da</strong>de com<br />

o que disse a geração anterior.<br />

As categorias cognitivas combinam -se e unem -se a expressões simbólicas<br />

de valor, para produzir um registro que os antropólogos qualificam de “mito”.<br />

As tradições mais sujeitas a uma reestruturação mítica são as que descrevem<br />

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