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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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152 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

tradição tornou -se um clichê do tipo: “Viemos todos de X”, X correspondendo<br />

perfeitamente às necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de; seja quando, como na narrativa<br />

popular, as variantes são tão divergentes que é quase impossível reconhecer o<br />

que constitui uma tradição e a separa <strong>da</strong>s outras. Nesse caso, torna -se evidente<br />

que a maioria <strong>da</strong>s versões são elaborações mais ou menos recentes, que têm<br />

por base outras narrativas populares. Nesses dois casos extremos, entretanto, é<br />

preciso poder demonstrar que a ausência de variantes realmente corresponde<br />

a uma forte motivação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, assim como a proliferação de variantes<br />

corresponde a considerações estéticas ou a uma necessi<strong>da</strong>de de divertimento<br />

que suplanta qualquer outra consideração. Ou, então, deve -se poder demonstrar<br />

que os postulados inconscientes <strong>da</strong> civilização homogeneizaram a tradição de<br />

maneira tal que esta se tornou um clichê sem variantes. É precisamente essa<br />

influência <strong>da</strong> civilização que deve ser examina<strong>da</strong> agora, feita a crítica sociológica.<br />

Estrutura mental <strong>da</strong> tradição<br />

Por estrutura mental entendemos as representações coletivas inconscientes<br />

de uma civilização, que influenciam to<strong>da</strong>s as suas formas de expressão e ao<br />

mesmo tempo constituem sua concepção do mundo. Essa estrutura mental<br />

varia de uma socie<strong>da</strong>de para outra. A nível superficial, é relativamente fácil<br />

descobrir parte dessa estrutura, através <strong>da</strong> aplicação de técnicas clássicas <strong>da</strong><br />

crítica literária ao conteúdo de todo o corpus de tradições e <strong>da</strong> comparação<br />

desse corpus com outras manifestações, sobretudo as simbólicas, <strong>da</strong> civilização.<br />

A tradição sempre idealiza; especialmente no caso de poemas e narrativas. Ela<br />

cria estereótipos populares. To<strong>da</strong> história tende a tornar -se paradigmática e,<br />

consequentemente, mítica, seja o seu conteúdo “ver<strong>da</strong>deiro” ou não. Assim,<br />

encontramos modelos de comportamentos ideais e de valores. Nas tradições de<br />

reis, os personagens tornam -se estereotipados, como num western, e, portanto,<br />

facilmente identificáveis. Um rei é o “mágico”, um outro governante é o “justo”,<br />

outra pessoa é o “guerreiro”. Mas isso distorce a informação; algumas guerras,<br />

por exemplo, são atribuí<strong>da</strong>s ao rei guerreiro, quando as campanhas foram de<br />

fato conduzi<strong>da</strong>s por outrem. Além disso, todos os reis possuem, em comum,<br />

características que refletem uma noção idealiza<strong>da</strong> <strong>da</strong> realeza. Também não é<br />

difícil encontrar estereótipos de diferentes personagens, especialmente de líderes,<br />

em outras socie<strong>da</strong>des. É o caso do “herói cultural”, frequentemente encontrado,<br />

que transforma o caos numa socie<strong>da</strong>de bem ordena<strong>da</strong>. A noção estereotipa<strong>da</strong> de<br />

caos é, no caso, a descrição de um mundo literalmente às avessas. Encontramos

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