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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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As fontes escritas a partir do século XV<br />

interior africano iniciou -se somente no fim do século XVIII, terminando com<br />

a divisão do continente entre as potências coloniais.<br />

Em termos de representação nacional, pode -se dizer que os autores do século<br />

XVI eram predominantemente portugueses; os do XVII, holandeses, franceses<br />

e ingleses; os do XVIII, principalmente ingleses e franceses, e os do XIX,<br />

ingleses, alemães e franceses. Outras nações europeias foram, evidentemente,<br />

representa<strong>da</strong>s no decorrer de todos esses séculos, como, por exemplo, os italianos<br />

no Congo no século XVII e no Sudão oriental no XIX, ou os dinamarqueses na<br />

Costa dos Escravos e na Costa do Ouro nos séculos XVIII e XIX. E há, entre os<br />

autores de livros de viagens e descrições (mas especialmente no último século),<br />

pessoas <strong>da</strong> Espanha, Rússia, Bélgica, Hungria, Suécia, Noruega, Tchecoslováquia,<br />

Polônia, Suíça, Estados Unidos, Brasil, e por vezes até um grego, romeno ou<br />

maltês. Felizmente, a maioria dos livros escritos em línguas menos conheci<strong>da</strong>s<br />

tem sido traduzi<strong>da</strong> para línguas mais acessíveis.<br />

Ao avaliar os materiais europeus, devemos levar em consideração não tanto<br />

a nacionali<strong>da</strong>de dos autores, mas, sim, a mu<strong>da</strong>nça de atitudes dos europeus em<br />

relação aos africanos e suas socie<strong>da</strong>des em geral. Seria simplista afirmar que os<br />

escritores portugueses estavam mais inclinados a observar com preconceitos<br />

cristãos os povos que descreviam, do que os ingleses, por exemplo; ou que os<br />

holandeses estavam mais propensos à observação objetiva do que os escritores<br />

de outras nações. Evidentemente, há diferença entre um cronista português do<br />

século XVI, cuja abor<strong>da</strong>gem estava impregna<strong>da</strong> dos valores medievais, e um<br />

estudioso ou médico holandês do fim do século XVII, produto de uma cultura<br />

já mais racional. A quanti<strong>da</strong>de e varie<strong>da</strong>de dos materiais à nossa disposição não<br />

nos permitem nenhuma generalização apressa<strong>da</strong>; somente a análise individual de<br />

ca<strong>da</strong> um, de acordo com seus méritos, que leve em consideração, evidentemente,<br />

sua <strong>da</strong>ta e o assunto tratado, nos permitiria formalizar um julgamento. Deve-<br />

-se também evitar a falácia de que, com o tempo, houve uma melhora gradual<br />

na objetivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s narrativas e de que, quanto mais nos aproximamos <strong>da</strong><br />

atuali<strong>da</strong>de, mais científicas se tornam as observações sobre a reali<strong>da</strong>de africana,<br />

o que equivaleria a admitir, aprioristicamente, que uma narrativa de um viajante<br />

do século XIX tem, simplesmente por isso, uma credibili<strong>da</strong>de maior que uma<br />

narrativa escrita três séculos antes. Burton e Stanley, enquanto observadores,<br />

eram prisioneiros <strong>da</strong> ideia, apresenta<strong>da</strong> como cientificamente prova<strong>da</strong>, <strong>da</strong><br />

superiori<strong>da</strong>de dos homens brancos, do mesmo modo que os autores portugueses<br />

eram prisioneiros <strong>da</strong> pretensa superiori<strong>da</strong>de de sua fé cristã. O período do<br />

comércio de escravos não era, em geral, favorável a narrativas objetivas sobre<br />

os africanos, mas as necessi<strong>da</strong>des práticas do comércio exigiam um estudo<br />

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