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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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A tradição oral e sua metodologia<br />

A cronologia dos Embu (Quênia) , por exemplo, é basea<strong>da</strong> em grupos de i<strong>da</strong>de<br />

que cobrem apenas uma diminuta área territorial, na qual os jovens são iniciados<br />

ao mesmo tempo. As cronologias relativas devem, portanto, ser associa<strong>da</strong>s e, se<br />

possível, converti<strong>da</strong>s em cronologias absolutas. Mas antes há um outro problema<br />

a ser resolvido: o de se assegurar que as informações utiliza<strong>da</strong>s correspondem a<br />

uma reali<strong>da</strong>de não distorci<strong>da</strong> pelo tempo.<br />

Torna -se ca<strong>da</strong> vez mais claro que a cronologia oral está sujeita a processos<br />

de distorção concomitantes e que agem em sentidos opostos: às vezes encurtam<br />

e às vezes prolongam a ver<strong>da</strong>deira duração dos acontecimentos passados. Há<br />

também uma tendência a regularizar as genealogias, as sucessões e a sequência<br />

de grupos de i<strong>da</strong>de, para conformá -las às normas ideais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de no momento.<br />

Do contrário, os <strong>da</strong>dos forneceriam precedentes para litígios de todo tipo. O<br />

processo homeostático é bastante real. Em certos casos especiais, como em<br />

Ruan<strong>da</strong>, por exemplo, a tarefa de gerir a tradição recai sobre um complexo<br />

grupo de especialistas, cujas afirmações têm sido corrobora<strong>da</strong>s por escavações<br />

arqueológicas.<br />

Etnólogos mostraram que as socie<strong>da</strong>des chama<strong>da</strong>s segmentárias tendem a<br />

eliminar ancestrais “inúteis”, isto é, os que não deixaram descendentes que ain<strong>da</strong><br />

vivam e constituam um grupo separado. Isso explica por que a profundi<strong>da</strong>de<br />

genealógica de ca<strong>da</strong> grupo numa determina<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de tende a permanecer<br />

constante. Somente os ancestrais “úteis” são utilizados para explicar o presente.<br />

Isso leva, por vezes, a uma grande condensação <strong>da</strong> profundi<strong>da</strong>de genealógica.<br />

Além do mais, acidentes demográficos às vezes reduzem um ramo de descendentes<br />

a um número tão pequeno, em comparação com outros ramos descendentes dos<br />

irmãos e irmãs do fun<strong>da</strong>dor do primeiro ramo, que este não pode mais existir<br />

paralelamente aos grandes grupos vizinhos, sendo então absorvido por um deles.<br />

A genealogia será reajusta<strong>da</strong>, e o fun<strong>da</strong>dor do grupo pequeno substituído pelo do<br />

grupo maior (que o absorve). A genealogia é, assim, simplifica<strong>da</strong>. A identi<strong>da</strong>de<br />

de um grupo étnico em geral é expressa por um único ancestral colocado na<br />

origem de uma genealogia. É o “primeiro homem”, um herói fun<strong>da</strong>dor, etc.<br />

Será o pai ou a mãe do primeiro ancestral “útil”. Desse modo, a lacuna entre<br />

a origem e a história consciente fica escamotea<strong>da</strong>. A operação de todo esse<br />

processo infelizmente levou, muitas vezes, a uma situação em que é praticamente<br />

impossível remontar, com segurança, a mais do que umas poucas gerações.<br />

Acreditava -se que muitas socie<strong>da</strong>des africanas, e especialmente as monarquias,<br />

tivessem escapado a esse processo. Não havia razão para que a lista de sucessão dos<br />

reis estivesse incorreta, que sua genealogia fosse duvidosa, exceto que, algumas<br />

vezes, era falsifica<strong>da</strong> quando uma dinastia substituía outra e se apoderava <strong>da</strong><br />

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