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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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Lugar <strong>da</strong> história na socie<strong>da</strong>de africana<br />

‑al ‑Su<strong>da</strong>n e o Ta’rikh ‑el ‑Fattash não poupam elogios aos méritos de al -Hajj<br />

Askiya Muhammad. É ver<strong>da</strong>de que havia interesses materiais em jogo. Mas<br />

sistematicamente as virtudes desse príncipe são relaciona<strong>da</strong>s à sua “fortuna”.<br />

Bello Muhammad pensa <strong>da</strong> mesma forma e convi<strong>da</strong> Yacouba Baoutchi a<br />

meditar sobre a história do Império Songhai: foi graças à sua justiça que Askiya<br />

Muhammad não apenas manteve como também reforçou a herança de Sonni<br />

Ali. E foi quando os filhos de Askiya se afastaram <strong>da</strong> justiça do Islã que seu<br />

império se desarticulou, dividindo -se em múltiplos principados impotentes.<br />

Para o filho de Usman <strong>da</strong>n Fodio, o mesmo princípio vale para seu próprio<br />

governo:<br />

“Olhe para o passado, para todos aqueles que coman<strong>da</strong>ram antes de nós… Havia<br />

antes de nós dinastias milenares no território haussa. Nelas, muitos povos tinham<br />

adquirido grandes poderes que desmoronaram porque estavam distanciados de sua<br />

base fun<strong>da</strong><strong>da</strong> na justiça, de seus costumes e tradições, alterados pela injustiça. Quanto<br />

a nós, nossa força, para que seja duradoura, deve ser a força <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de e a do islamismo.<br />

Para nós, o fato de ter matado Yunfa, destruído a obra de Nafata, de Abarchi<br />

e de Bawa Zangorzo 5 pode impressionar as gerações atuais mesmo fora <strong>da</strong> influência<br />

do Islã. Mas as que virão depois de nós, não mais perceberão isso: elas julgar -nos-<br />

-ão pelo valor <strong>da</strong>s organizações que lhes tivermos deixado, pela força permanente<br />

do islamismo que tivermos estabelecido, pela ver<strong>da</strong>de e justiça que tivermos sabido<br />

impor ao Estado”.<br />

Esta visão eleva<strong>da</strong> do papel <strong>da</strong> ética na história não provém somente <strong>da</strong>s<br />

convicções islâmicas do líder de Socoto. Nos meios “animistas” também existe<br />

a ideia de que a ordem <strong>da</strong>s forças cósmicas pode ser altera<strong>da</strong> por procedimentos<br />

imorais e que o desequilíbrio resultante só pode ser prejudicial ao seu autor.<br />

Esta visão do mundo em que os valores e exigências éticas são parte integrante<br />

<strong>da</strong> própria organização do mundo pode parecer mítica. Mas ela exercia uma<br />

influência objetiva sobre o comportamento dos homens e particularmente<br />

sobre diversos líderes políticos <strong>da</strong> <strong>África</strong>. Nesse sentido, pode -se dizer que<br />

se a história é, em geral, justificação do passado, ela é também exortação do<br />

futuro. Nos sistemas pré -estatais, a autori<strong>da</strong>de moral que afiançava ou corrigia<br />

eventualmente a conduta dos negócios públicos era assumi<strong>da</strong> por socie<strong>da</strong>des<br />

especializa<strong>da</strong>s, às vezes secretas, tal como o lo do povo Senoufo ou o poro <strong>da</strong> Alta<br />

Guiné. Essas socie<strong>da</strong>des constituíam muitas vezes poderes paralelos encarregados<br />

de desempenhar o papel de recurso à parte do sistema estabelecido. Mas elas<br />

5 Príncipes do Gobir.<br />

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