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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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A tradição oral e sua metodologia<br />

social, à concepção do mundo, e praticamente intraduzíveis, exigem que se faça<br />

uma interpretação à luz do contexto literário no qual aparecem.<br />

É impossível coligir tudo. O historiador vê -se obrigado, portanto, a levar em<br />

consideração requisitos práticos e deverá se <strong>da</strong>r por satisfeito uma vez obti<strong>da</strong><br />

uma amostra representativa de ca<strong>da</strong> gênero literário.<br />

Somente através <strong>da</strong> catalogação dos vários tipos de narrativa pertencentes ao<br />

grupo étnico em estudo, ou a outros grupos, é possível discernir não só imagens<br />

ou expressões favoritas, mas também os episódios estereotipados, como nas<br />

narrativas que se poderia classificar como “len<strong>da</strong>s migratórias” (Wandersagen).<br />

Por exemplo, uma narrativa luba <strong>da</strong>s margens do lago Tanganica conta como um<br />

chefe livrou -se de outro, convi<strong>da</strong>ndo -o a sentar -se num tapete sob o qual havia<br />

sido cavado um poço contendo estacas com pontas afia<strong>da</strong>s. O chefe sentou-<br />

-se e morreu. O mesmo quadro pode ser encontrado dos grandes lagos até o<br />

oceano, e também entre os Peul do Liptako (Alto Volta), os Haussa (Nigéria)<br />

e os Mossi de Yatenga (Alto Volta). A importância desses episódios -clichês é<br />

óbvia. Infelizmente, não possuímos nenhum livro de referências útil que trate<br />

deles, embora H. Baumann mencione muitos temas -clichês que ocorrem em<br />

narrativas sobre as origens de diversos povos 1 . Já é tempo de se estabelecerem<br />

catálogos práticos para a pesquisa desses estereótipos. Os chamados índices de<br />

motivos populares (Folk Motiv Index) são de difícil manuseio, e confusos, pois<br />

se baseiam em características de menor importância, escolhi<strong>da</strong>s arbitrariamente,<br />

enquanto, nas narrativas africanas, o episódio representa uma uni<strong>da</strong>de natural<br />

em um catálogo.<br />

Uma vez encontrado um clichê desse tipo, não é correto rejeitar to<strong>da</strong> a<br />

tradição, ou mesmo a parte que contém essa sequência de eventos, como<br />

destituí<strong>da</strong> de valor. Devemos, sim, explicar por que o clichê foi utilizado. No caso<br />

mencionado, ele simplesmente explica que um chefe elimina outro e acrescenta<br />

uma descrição de como isso foi feito, que é fictícia mas agra<strong>da</strong> aos ouvintes.<br />

Com mais frequência, perceberemos que esse tipo de clichê constrói explicações<br />

e comentários para <strong>da</strong>dos que podem ser perfeitamente legítimos.<br />

A crítica literária levará em consideração não apenas os significados literal e<br />

pretendido de uma tradição, mas também as restrições impostas, para a expressão<br />

<strong>da</strong> mensagem, por requisitos formais e estilísticos. Avaliará o efeito <strong>da</strong> distorção<br />

estética, muito frequente. Afinal, mesmo as mensagens do passado não devem ser<br />

enfadonhas demais! É neste ponto que a observação <strong>da</strong>s representações sociais<br />

1 BAUMANN, H. 1936.<br />

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