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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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262 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

Procurando promover uma metodologia rigorosa e científica, J. H. Greenberg<br />

– cuja contribuição, embora discutível em parte, ain<strong>da</strong> continua nova e importante<br />

– torna -se algumas vezes eco desse impacto negativo <strong>da</strong> ideologia etnocentrista.<br />

Seligman, Meinhof e, depois deles, autores importantes como Delafosse,<br />

Bauman, Westermann ou Müller, desenvolvem argumentos de uma fragili<strong>da</strong>de<br />

científica consternadora, pois baseiam -se em preconceitos do tipo que Meinhof<br />

exprime na seguinte fórmula: “No curso <strong>da</strong> história, repete -se constantemente o<br />

fato de que os povos camitas têm subjugado e governado os povos de pele negra”.<br />

Essas constatações fun<strong>da</strong>mentam a prudência com que deve ser utilizado<br />

o material que os trabalhos linguísticos oferecem aos historiadores ou aos<br />

especialistas <strong>da</strong>s ciências humanas em geral.<br />

Segundo Greenberg,<br />

“o emprego vago do termo camita como categoria linguística e sua utilização na<br />

classificação <strong>da</strong>s raças para designar um tipo considerado fun<strong>da</strong>mentalmente caucasóide,<br />

conduziram a uma teoria racial. Ela vê, na maioria <strong>da</strong>s populações originárias<br />

<strong>da</strong> <strong>África</strong> negra, o resultado de uma mistura entre camitas e negros”.<br />

Assim, a denominação de “povos de língua nilo -camítica refere -se à obra<br />

de C. G. Seligman, Races of Africa. “Esses povos são considerados racialmente<br />

meio -camitas.” Os Bantu constituiriam também uma outra varie<strong>da</strong>de de negros<br />

camitizados. E isso, comenta ain<strong>da</strong> Greenberg:<br />

“Tomando por base as especulações de Meinhof, para as quais, aliás, ele nunca<br />

forneceu a menor prova, pela simples razão de que não há prova possível para que o<br />

bantu, como diz Seligman, seja uma língua mista e o homem bantu, por assim dizer,<br />

descendente de pai camita e mãe negra”.<br />

De fato, conclui J. H. Greenberg, essa ideologia falseia totalmente, ain<strong>da</strong><br />

hoje, a elaboração de uma ciência linguística capaz de esclarecer as ver<strong>da</strong>deiras<br />

relações entre línguas e civilizações na <strong>África</strong>.<br />

A migração dos povos africanos no sentido leste -oeste e norte -sul tornou<br />

confuso o quadro étnico, racial e linguístico do continente. Isso é indicado, como<br />

se pode ver em muitos trabalhos, pelos nomes de pessoas e lugares e pelos fatos<br />

de linguística pura relativos ao próprio vocabulário essencial. As línguas do<br />

Senegal, como o wolof, o diula, o fulfulde ou o seereer, atestam semelhanças mais<br />

profun<strong>da</strong>s com as línguas bantu <strong>da</strong> <strong>África</strong> do Sul, <strong>da</strong> Tanzânia, de Camarões e<br />

do Zaire do que com as línguas <strong>da</strong> família mandinga no interior <strong>da</strong>s quais são<br />

geograficamente inseri<strong>da</strong>s. O léxico, a estrutura e mesmo os princípios <strong>da</strong> escrita<br />

egípcia antiga, como veremos mais tarde, estão mais próximos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de

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