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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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322 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

Lepsius adotou como base de sua classificação o critério dos tipos de<br />

classificação do substantivo. Tal enfoque provinha do trabalho anterior de<br />

Bleek (1851) 14 . Bleek ficara impressionado com o que considerava a diferença<br />

fun<strong>da</strong>mental entre as línguas bantu, que possuíam sistemas complexos de classes<br />

nominais em que o gênero baseado em sexo não desempenhava nenhuma<br />

função, e as línguas semíticas e camíticas, que tinham a distinção de gênero<br />

basea<strong>da</strong> no sexo como princípio de classificação nominal. Aplicando tal critério,<br />

Bleek classificou o khoi -khoi entre as línguas camíticas por possuir este tipo<br />

de distinção de gênero, apesar de se assemelhar às línguas san em quase todos<br />

os outros aspectos.<br />

Lepsius, tomando como ponto de parti<strong>da</strong> a ideia geral de Bleek, considerou<br />

que, dentre as línguas fala<strong>da</strong>s por populações negras, o bantu – em que a<br />

classificação nominal não se baseia no sexo – era a língua original, ao passo que<br />

as demais tornaram -se mistas pela influência <strong>da</strong>s línguas camíticas. Classificou<br />

as línguas em quatro grupos: 1. bantu; 2. negro misto; 3. camítico; 4. semítico.<br />

No entanto, existem duas categorias fun<strong>da</strong>mentais: a) línguas bantu e negras<br />

mistas (línguas com classes nominais); b) línguas semíticas e camíticas (línguas<br />

com distinção de gênero). Afinal, haveria a possibili<strong>da</strong>de de se demonstrar<br />

que estas últimas têm parentesco com o indo -europeu, que também possui<br />

distinção de gênero basea<strong>da</strong> no sexo. De fato, Lepsius agrupava o indo -europeu,<br />

o semítico e o camítico numa mesma família, que chamou de “noíta”, com três<br />

ramos que representavam os três filhos de Noé: Sem, Cam e Jafet. Declara<br />

explicitamente a superiori<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s línguas com distinção de gênero: “Parece<br />

indubitável, no entanto, que os três grandes ramos <strong>da</strong>s línguas com distinção de<br />

gênero não só tenham sido no passado os depositários e os órgãos do processo<br />

histórico <strong>da</strong> civilização humana, mas também que neles, e particularmente<br />

no ramo mais jovem, o jafético, repousa a esperança futura do mundo” 15 . O<br />

parentesco intelectual <strong>da</strong>s “teorias camíticas” é evidente, desde Bleek até as<br />

teorias posteriores de Meinhof, passando pelas de Lepsius.<br />

Na obra exaustiva de Müller, publica<strong>da</strong> em 1884, to<strong>da</strong>s as línguas conheci<strong>da</strong>s<br />

do mundo são classifica<strong>da</strong>s segundo a hipótese de uma relação fun<strong>da</strong>mental<br />

entre o tipo físico do falante e a língua. Suas principais divisões são “as línguas<br />

dos povos de cabelos lisos”, “as línguas dos povos de cabelos crespos”, etc. Essa<br />

hipótese o leva, por exemplo, a classificar o khoi -khoi não entre as línguas<br />

camíticas, como faz Lepsius, mas entre as línguas <strong>da</strong>s raças de cabelos ondulados,<br />

14 BLEEK. W. H. I. 1851.<br />

15 LEPSIUS, C. R. 1880, p. 90.

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