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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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290 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

genético, que pode ser considerado um gigantesco banco de <strong>da</strong>dos biológicos em<br />

ação, e o meio ambiente, em sentido amplo, pois começa já no meio fetal.<br />

As mu<strong>da</strong>nças que resultam <strong>da</strong> interação desses dois fatores básicos intervêm<br />

seja sob a forma incontrolável <strong>da</strong> seleção e <strong>da</strong> migração gênica (mestiçagem),<br />

seja sob a forma casual <strong>da</strong> oscilação genética ou <strong>da</strong> mutação. Em resumo, é to<strong>da</strong><br />

a história de uma população que explica sua presente facies “racial”, incluindo,<br />

através <strong>da</strong> interpretação <strong>da</strong>s representações coletivas, as religiões, os costumes<br />

alimentares, de vestuário e outros.<br />

Nesse contexto, o que dizer <strong>da</strong> situação racial do continente africano? A difícil<br />

conservação dos fósseis humanos devido à umi<strong>da</strong>de e à acidez dos solos dificulta a<br />

análise histórica sob esse ponto de vista. Contudo, pode -se dizer que, ao contrário<br />

<strong>da</strong>s teorias europeias que explicam o povoamento <strong>da</strong> <strong>África</strong> pelas migrações vin<strong>da</strong>s<br />

<strong>da</strong> Ásia 10 , as populações desse continente são em grande parte autóctones. Quanto<br />

à cor <strong>da</strong> pele dos habitantes mais antigos do continente nas latitudes tropicais,<br />

vários autores pensam que ela deveria ser escura (Brace, 1964), pois a própria<br />

cor negra é uma a<strong>da</strong>ptação protetora contra os raios nocivos, principalmente os<br />

ultravioleta. A pele clara e os olhos claros dos povos do norte seriam caracteres<br />

secundários ocasionados por mutação ou por pressão seletiva (Cole, 1965).<br />

Hoje, embora não se possa traçar uma fronteira linear, dois grandes grupos<br />

“raciais” são identificáveis no continente africano dos dois lados do Saara: no<br />

norte, o grupo árabe -berbere, com patrimônio genético “mediterrâneo” (líbios,<br />

semitas, fenícios, assírios, gregos, romanos, turcos, etc.); no sul, o grupo negro.<br />

Convém notar que as mu<strong>da</strong>nças climáticas, que às vezes anularam o deserto,<br />

provocaram durante milênios numerosas mesclas populacionais.<br />

A partir de várias dezenas de marcadores sanguíneos, Nei Masatoshi e A.<br />

R. Roy Coudhury estu<strong>da</strong>ram as diferenças genéticas inter e intragrupos em<br />

caucasoides e mongoloides 11 . Eles definiram coeficientes de correlação, a fim de<br />

estabelecer o período aproximado em que esses povos se separaram e constituíram<br />

grupos distintos. Ao que tudo indica, o grupo negroide tornou -se autônomo há<br />

120.000 anos, enquanto os mongoloides e caucasoides individualizaram -se há<br />

apenas 55.000 anos. Segundo J. Ruffie, “esse esquema ajusta -se à maior parte dos<br />

<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> hemotipologia fun<strong>da</strong>mental” 12 . A partir dessa época, muitas misturas<br />

se realizaram no continente africano.<br />

10 A teoria camítica (SELIGMAN e outro) – que se deve, por um lado, à ignorância de certos fatos e, por<br />

outro, à vontade de justificar o sistema colonial – é a forma mais racista dessas montagens pseudocientíficas.<br />

11 MASATOSHI, N. e ROY COUDHURY, A. R. 1974, p. 26, 421.<br />

12 RUFFIE, J. p. 399.

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