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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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72 <strong>Metodologia</strong> e pré -história <strong>da</strong> <strong>África</strong><br />

(Sudão ocidental), conduzi<strong>da</strong>s no fim de 1960 pelos professores J. Devisse,<br />

D. e S. Robert, então na Universi<strong>da</strong>de de Dacar, os pesquisadores exploraram<br />

simultânea e combina<strong>da</strong>mente as tradições locais, as crônicas árabes medievais<br />

e as técnicas propriamente arqueológicas. Assim, um período mal conhecido<br />

<strong>da</strong> história africana (do século VII ao XIII) pôde ser restituído à memória dos<br />

homens, graças evidentemente à própria arqueologia, mas também, em parte, à<br />

tradição local e aos documentos escritos.<br />

Esses exemplos, que poderíamos multiplicar, mostram que na <strong>África</strong>, mais<br />

do que em outros lugares, a tradição oral é parte integrante <strong>da</strong> base documental<br />

do historiador, que desse modo se amplia. A história africana não pode mais<br />

ser feita como no passado, quando a tradição oral – que é uma manifestação do<br />

tempo – era afasta<strong>da</strong> <strong>da</strong> investigação histórica.<br />

Não foi ain<strong>da</strong> suficientemente destacado um ponto importantíssimo: de um<br />

lado, a maneira como a tradição oral apresenta o tempo, e de outro, a maneira<br />

como ela apresenta os acontecimentos através do tempo. De que modo o<br />

griot apresenta a história? Essa é a questão decisiva. O griot africano quase<br />

nunca trabalha com uma trama cronológica. Ele não apresenta a sequência<br />

dos acontecimentos humanos com suas acelerações ou seus pontos de ruptura.<br />

O que ele diz e reconstitui merece ser escutado em perspectiva e não pode<br />

ser de outra forma. O griot só se interessa pelo homem apreendido em sua<br />

existência, como condutor de valores e agindo na natureza de modo intemporal.<br />

É por isso que ele não se dispõe a fazer a síntese dos diversos momentos <strong>da</strong><br />

história que relata. Trata ca<strong>da</strong> momento em si mesmo, com um sentido próprio,<br />

sem relações precisas com outros momentos. Os momentos dos fatos relatados<br />

são descontínuos. Trata -se, a rigor, <strong>da</strong> história absoluta. Essa história – que<br />

apresenta sem <strong>da</strong>tas e de modo global, estágios de evolução, é simplesmente a<br />

história estrutural. Os afloramentos e as emergências temporais denomina<strong>da</strong>s<br />

em outros lugares “ciclo” (ideia de círculo), “período” (ideia de espaço de tempo),<br />

“época” (ideia de para<strong>da</strong> ou de momento marcado por algum acontecimento<br />

importante), “i<strong>da</strong>de” (ideia de duração, de passagem do tempo), “série” (ideia de<br />

sequência, de sucessão), “momento” (ideia de instante, de circunstância, de tempo<br />

presente), etc., são praticamente deixa<strong>da</strong>s de lado pelo griot africano, enquanto<br />

expressões possíveis de seu discurso. É claro que ele não ignora nem o tempo<br />

cósmico (estações, anos, etc.) nem o passado humano, já que o que ele relata é,<br />

de fato, passado. Mas lhe é bastante difícil esboçar um modelo do tempo. Ele<br />

oferece de uma só vez to<strong>da</strong> a plenitude de um tempo.<br />

Ain<strong>da</strong> no domínio <strong>da</strong>s ciências humanas e sociais, a contribuição dos<br />

sociólogos e cientistas políticos permite redefinir o saber histórico e cultural.

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