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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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A tradição viva<br />

com o mundo <strong>da</strong>s forças e pouco a pouco o conduzirá ao autodomínio, sendo a<br />

finali<strong>da</strong>de última tornar -se, tal como Maa, um “homem completo”, interlocutor<br />

de Maa Ngala e guardião do mundo vivo.<br />

Os ofícios tradicionais<br />

Os ofícios artesanais tradicionais são os grandes vetores <strong>da</strong> tradição oral.<br />

Na socie<strong>da</strong>de tradicional africana, as ativi<strong>da</strong>des humanas possuíam<br />

frequentemente um caráter sagrado ou oculto, principalmente as ativi<strong>da</strong>des<br />

que consistiam em agir sobre a matéria e transformá -la, uma vez que tudo é<br />

considerado vivo.<br />

To<strong>da</strong> função artesanal estava liga<strong>da</strong> a um conhecimento esotérico transmitido<br />

de geração a geração e que tinha sua origem em uma revelação inicial. A obra<br />

do artesão era sagra<strong>da</strong> porque “imitava” a obra de Maa Ngala e completava<br />

sua criação. A tradição bambara ensina, de fato, que a criação ain<strong>da</strong> não está<br />

acaba<strong>da</strong> e que Maa Ngala, ao criar nossa terra, deixou as coisas inacaba<strong>da</strong>s para<br />

que Maa, seu interlocutor, as completasse ou modificasse, visando conduzir a<br />

natureza à perfeição. A ativi<strong>da</strong>de artesanal, em sua operação, deveria “repetir” o<br />

mistério <strong>da</strong> criação. Portanto, ela “focalizava” uma força oculta <strong>da</strong> qual não se<br />

podia aproximar sem respeitar certas condições rituais.<br />

Os artesãos tradicionais acompanham o trabalho com cantos rituais ou<br />

palavras rítmicas sacramentais, e seus próprios gestos são considerados uma<br />

linguagem. De fato, os gestos de ca<strong>da</strong> ofício reproduzem, no simbolismo que lhe<br />

é próprio, o mistério <strong>da</strong> criação primeira, que, como foi mostrado anteriormente,<br />

ligava -se ao poder <strong>da</strong> Palavra. Diz -se que:<br />

“O ferreiro forja a Palavra,<br />

O tecelão a tece,<br />

O sapateiro amacia -a curtindo -a”.<br />

Tomemos o exemplo do tecelão, cujo ofício vincula -se ao simbolismo <strong>da</strong><br />

Palavra criadora que se distribui no tempo e no espaço.<br />

O tecelão de casta (um maabo, entre os Peul) é o depositário dos segredos<br />

<strong>da</strong>s 33 peças que compõem a base fun<strong>da</strong>mental do tear, ca<strong>da</strong> uma delas com<br />

um significado. A armação, por exemplo, constitui -se de oito peças principais:<br />

quatro verticais, que simbolizam não só os quatro elementos -mãe (terra, água,<br />

ar e fogo), mas também os quatro pontos cardeais, e quatro transversais, que<br />

simbolizam os quatro pontos colaterais. O tecelão, situado no meio, representa<br />

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