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Metodologia e Pré-História da África - unesdoc - Unesco

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A tradição oral e sua metodologia<br />

declarações. Porque, nesse último caso, a transmissão seria altera<strong>da</strong> e estaríamos<br />

diante de uma nova tradição.<br />

Algumas pessoas, em particular especialistas como os griots, conhecem<br />

tradições relativas a to<strong>da</strong> uma série de diferentes eventos. Houve casos de uma<br />

pessoa recitar duas tradições diferentes para relatar o mesmo processo histórico.<br />

Informantes de Ruan<strong>da</strong> “relataram duas versões de uma tradição sobre os Tutsi<br />

e os Hutu: uma, segundo a qual, o primeiro Tutsi caiu do céu e encontrou o<br />

Hutu na terra; e outra, segundo a qual Tutsi e Hutu eram irmãos. Duas tradições<br />

completamente diferentes, um mesmo informante e um mesmo assunto! É por<br />

isso que se inclui “uma mesma sequência de acontecimentos” na definição de um<br />

testemunho. Enfim, todos conhecem o caso do informante local que conta uma<br />

história compósita, elabora<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong>s diferentes tradições que ele conhece.<br />

Uma tradição é uma mensagem transmiti<strong>da</strong> de uma geração para a seguinte.<br />

Mas nem to<strong>da</strong> informação verbal é uma tradição. Inicialmente, distinguimos o<br />

testemunho ocular, que é de grande valor, por se tratar de uma “imediata”, não<br />

transmiti<strong>da</strong>, de modo que os riscos de distorção do conteúdo são mínimos. Aliás,<br />

to<strong>da</strong> tradição oral legítima deveria, na reali<strong>da</strong>de, fun<strong>da</strong>r -se no relato de um<br />

testemunho ocular. O boato deve ser excluído, pois, embora certamente transmita<br />

uma mensagem, é resultado, por definição, do ouvir dizer. Ao fim, ele se torna<br />

tão distorcido que só pode ter valor como expressão <strong>da</strong> reação popular diante<br />

de um determinado acontecimento, podendo, no entanto, também <strong>da</strong>r origem<br />

a uma tradição, quando é repetido por gerações posteriores. Resta, por fim, a<br />

tradição propriamente dita, que transmite evidências para as gerações futuras.<br />

A origem <strong>da</strong>s tradições pode, portanto, repousar num testemunho ocular,<br />

num boato ou numa nova criação basea<strong>da</strong> em diferentes textos orais existentes,<br />

combinados e a<strong>da</strong>ptados para criar uma nova mensagem. Mas somemte as<br />

tradições basea<strong>da</strong>s em narrativas de testemunhos oculares são realmente váli<strong>da</strong>s,<br />

o que os historiadores do Islã compreenderam muito bem. Desenvolveram uma<br />

complica<strong>da</strong> técnica para determinar o valor dos diferentes Hadiths, ou tradições<br />

que se pretendiam palavras do Profeta, recolhi<strong>da</strong>s por seus companheiros. Com<br />

o tempo, o número de Hadiths tornou -se muito grande, e foi necessário eliminar<br />

aqueles para os quais a cadeia de informantes (Isnad) que ligava o erudito que<br />

as havia registrado por escrito a um dos companheiros do Profeta não podia<br />

ser estabeleci<strong>da</strong>. Para ca<strong>da</strong> ligação, o cronista islâmico determinava critérios de<br />

probabili<strong>da</strong>de e credibili<strong>da</strong>de idênticos aos empregados na crítica histórica atual.<br />

Poderia a testemunha intermediária conhecer a tradição? Poderia compreendê-<br />

-la? Era seu interesse distorcê -la? Poderia tê -la transmitido? E, se fosse o caso,<br />

quando, como e onde?<br />

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