02.08.2017 Views

_Manual de Direito Administrativo_(2017)_Jose dos Santos Carvalho Filho

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

a lei atribuiu à outra modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>legação, conhecida até agora na doutrina como concessão <strong>de</strong> obra pública.<br />

A Lei n o 8.987/1995, todavia, foi expressa quando se referiu, em seu art. 2 o , III, à concessão <strong>de</strong> serviço público precedida da<br />

execução <strong>de</strong> obra pública. Assim, a <strong>de</strong>speito da extensão da nomenclatura, parece-nos coerente empregar os termos menciona<strong>dos</strong><br />

na lei. Diga-se, a bem da verda<strong>de</strong>, que a expressão legal nos parece mais técnica e condizente com essa forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>legação.<br />

Trata-se, como veremos adiante, <strong>de</strong> instituto com duplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> objeto, <strong>de</strong>vendo-se distinguir o exercício da ativida<strong>de</strong> a ser<br />

prestada ao público da execução da obra em si mesma.<br />

Com efeito, a expressão concessão <strong>de</strong> obra pública parecia indicar que o Po<strong>de</strong>r Público “transferia” (ou “concedia”) uma<br />

obra pública, o que não é precisamente o que ocorre nesse negócio jurídico. A obra não po<strong>de</strong> ser tecnicamente concedida; o que o<br />

Estado conce<strong>de</strong> é a ativida<strong>de</strong>, ou seja, o serviço. Para tanto autoriza o concessionário a executar a obra previamente. Há, portanto,<br />

duplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> objeto; em relação a este, o que é objeto <strong>de</strong> concessão é o serviço público a ser prestado após a execução da obra.<br />

É verda<strong>de</strong> que há entendimento no sentido da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> concessão <strong>de</strong> obra sem que haja a prestação <strong>de</strong> um serviço<br />

público (casos <strong>de</strong> estacionamento, estádios e museus). 8 Com a <strong>de</strong>vida vênia, não adotamos o mesmo entendimento. Ainda quando<br />

o Po<strong>de</strong>r Público contrata particular para tais construções, as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>las <strong>de</strong>correntes se caracterizam como serviços públicos,<br />

ou seja, serviços administrativos <strong>de</strong> interesse do Estado e da população. Na verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>veriam os empreendimentos estar a cargo<br />

do Estado, mas, em face da carência <strong>de</strong> recursos, são cometi<strong>dos</strong> a particulares, que <strong>de</strong>les se beneficiarão pelo período <strong>de</strong>finido no<br />

contrato.<br />

Diversa, no entanto, é a hipótese em que o Estado constrói, por exemplo, um estacionamento com seus próprios recursos,<br />

mas não tem interesse em sua exploração. Se resolver transferi-la a particulares, o negócio jurídico a ser firmado se caracterizará<br />

como concessão <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> bem público, instituto <strong>de</strong> natureza diversa do que se prevê na Lei n o 8.987/1995. O mesmo suce<strong>de</strong>rá se<br />

o Estado realiza construção para fins <strong>de</strong> específica exploração empresarial (não será a regra, mas se afigura possível) – diversa,<br />

pois, da noção <strong>de</strong> serviços públicos: po<strong>de</strong>rá alugá-lo a terceiros; dar em comodato; ou celebrar concessão <strong>de</strong> uso, remunerada ou<br />

gratuita. Também aqui não incidirá aquele diploma legal.<br />

Fiquemos, pois, com a expressão da lei: concessão <strong>de</strong> serviço público precedida da execução <strong>de</strong> obra pública.<br />

3.2.<br />

Conceito<br />

Concessão <strong>de</strong> serviço público precedida da execução <strong>de</strong> obra pública é o contrato administrativo através do qual o Po<strong>de</strong>r<br />

Público ajusta com pessoa jurídica ou consórcio <strong>de</strong> empresas a execução <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada obra pública, por sua conta e risco,<br />

<strong>de</strong>legando ao construtor, após a conclusão, sua exploração por <strong>de</strong>terminado prazo.<br />

Nessa forma <strong>de</strong> concessão, preten<strong>de</strong> o Estado livrar-se do dispêndio que obras públicas acarretam, <strong>de</strong>ixando todo o<br />

investimento a cargo do concessionário. Como este investe, com toda a certeza, vultosos recursos na execução da obra, é justo<br />

que se lhe permita explorá-la para recuperar o capital investido. Por outro lado, a coletivida<strong>de</strong> se beneficia da obra, e o Estado,<br />

após o prazo da concessão, assume sua exploração, po<strong>de</strong>ndo, ou não, transferi-la novamente, se for <strong>de</strong> sua conveniência.<br />

3.3.<br />

Objeto<br />

A <strong>de</strong>legação sob essa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> concessão compreen<strong>de</strong> uma duplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> objeto.<br />

O primeiro <strong>de</strong>les encerra um ajuste entre o conce<strong>de</strong>nte e o concessionário para o fim <strong>de</strong> ser executada <strong>de</strong>terminada obra<br />

pública. Há aqui verda<strong>de</strong>iro contrato <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> obra, assemelhado aos contratos administrativos <strong>de</strong> obra em geral, <strong>de</strong>les se<br />

distinguindo, contudo, pela circunstância <strong>de</strong> que o conce<strong>de</strong>nte não remunera o concessionário pela execução, o que não ocorre<br />

naqueles, como vimos no capítulo <strong>de</strong>stinado aos contratos administrativos. 9<br />

O segundo objeto é que traduz uma real concessão, vale dizer, o conce<strong>de</strong>nte, concluída a obra, transfere sua exploração, por<br />

<strong>de</strong>terminado prazo, ao concessionário. É o serviço público <strong>de</strong> exploração da obra pública que vai ser concedido, incumbindo<br />

àqueles que <strong>de</strong>le <strong>de</strong>sfrutarem (os usuários) o pagamento da respectiva tarifa em prol <strong>de</strong> quem construiu a obra e agora explora o<br />

serviço <strong>de</strong>la <strong>de</strong>corrente.<br />

Firma-se, por conseguinte, um pacto <strong>de</strong> construção e um <strong>de</strong> concessão do serviço.<br />

Vale a pena observar, por oportuno, que, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> ter sido <strong>de</strong>nominada <strong>de</strong> concessão <strong>de</strong> serviço público precedida da<br />

execução <strong>de</strong> obra pública, foi ela <strong>de</strong>finida na lei como a construção, total ou parcial, conservação, reforma, ampliação ou<br />

melhoramento <strong>de</strong> quaisquer obras <strong>de</strong> interesse público (art. 2 o , III). No que diz respeito a construção, reforma, ampliação ou<br />

melhoramento <strong>de</strong> obras, é assimilável o caráter <strong>de</strong> precedência em relação ao serviço a ser executado.<br />

O mesmo não se po<strong>de</strong> dizer, contudo, quanto à ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação. A ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservar obras públicas guarda<br />

concomitância com o serviço prestado, e não precedência: à medida que as obras vão sendo executadas, o concessionário explora<br />

o respectivo bem público através da cobrança <strong>de</strong> tarifa. É o que ocorre, por exemplo, com a concessão para a execução <strong>de</strong> obras e

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!