02.08.2017 Views

_Manual de Direito Administrativo_(2017)_Jose dos Santos Carvalho Filho

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Po<strong>de</strong> o contrato <strong>de</strong> concessão extinguir-se pela rescisão (art. 35, IV). Caracteriza-se a rescisão pela ocorrência <strong>de</strong> fato,<br />

superveniente à celebração do contrato, idôneo para <strong>de</strong>sfazer o vínculo firmado entre o conce<strong>de</strong>nte e o concessionário. O termo<br />

era frequentemente empregado no sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>scumprimento pelo concessionário <strong>de</strong> obrigações regulamentares, muito embora<br />

admitisse outros senti<strong>dos</strong>, como bem <strong>de</strong>monstra MARCELO CAETANO. 104<br />

O Estatuto das Concessões, porém, ao se referir à rescisão, consi<strong>de</strong>rou-a como <strong>de</strong> iniciativa do concessionário, 105<br />

reservando nomenclatura própria (caducida<strong>de</strong>) para a rescisão <strong>de</strong>flagrada pelo conce<strong>de</strong>nte. Resulta daí, portanto, que, nos termos<br />

da lei vigente, a rescisão é a forma <strong>de</strong> extinção cuja ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>flagradora é atribuída ao concessionário. A <strong>de</strong>speito da estrita<br />

referência legal, porém, não nos parece <strong>de</strong>scartada a hipótese <strong>de</strong> rescisão bilateral amigável ou distrato, em que as partes<br />

concordam em pôr fim ao contrato. Embora não se tenha mencionado tal forma, não foi ela vedada na lei. Além do mais, po<strong>de</strong><br />

haver interesse recíproco das partes contratantes em extinguir o ajuste, não sendo razoável que fossem a isso impedidas.<br />

O pressuposto da rescisão é o <strong>de</strong>scumprimento, pelo conce<strong>de</strong>nte, das normas legais, regulamentares ou contratuais. Embora<br />

a lei se refira apenas às normas contratuais, enten<strong>de</strong>mos que não é só o <strong>de</strong>scumprimento <strong>de</strong>stas que dá causa à rescisão. Haverá<br />

ocasiões em que por <strong>de</strong>srespeito à lei ou aos regulamentos disciplinadores da concessão sejam da mesma forma vulnera<strong>dos</strong><br />

direitos do concessionário. O fator <strong>de</strong>scumprimento é o mesmo, <strong>de</strong> forma que o concessionário po<strong>de</strong>rá tomar a iniciativa <strong>de</strong><br />

extinguir a concessão por meio da rescisão.<br />

O único caminho para esse tipo <strong>de</strong> rescisão é a via judicial. Com efeito, na via administrativa o conce<strong>de</strong>nte dificilmente<br />

reconheceria seu inadimplemento. Soma-se, ainda, o fato <strong>de</strong> que, discussão por discussão, prevalece a vonta<strong>de</strong> da Administração,<br />

dotada que é do privilégio da presunção <strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong>. Surgindo, portanto, o conflito <strong>de</strong> interesses, e certo o concessionário do<br />

<strong>de</strong>scumprimento, pelo conce<strong>de</strong>nte, das obrigações que lhe incumbem, <strong>de</strong>ve ele recorrer ao Judiciário para postular não somente o<br />

<strong>de</strong>sfazimento do pacto concessional, mas também a eventual reparação <strong>dos</strong> prejuízos causa<strong>dos</strong> pelo Po<strong>de</strong>r Público por sua<br />

atuação ilícita.<br />

Ao contrário da Administração, o concessionário não po<strong>de</strong> valer-se da exceptio non adimpleti contractus (exceção <strong>de</strong><br />

contrato não cumprido), prevista no art. 476 do Código Civil, segundo o qual, nos contratos bilaterais, nenhum <strong>dos</strong> pactuantes,<br />

antes <strong>de</strong> cumprida a sua obrigação, po<strong>de</strong> exigir o implemento da do outro. Dispõe o art. 39, parágrafo único, da Lei n o 8.987/1995<br />

que os serviços a cargo do concessionário não po<strong>de</strong>rão ser interrompi<strong>dos</strong> ou paralisa<strong>dos</strong> até a <strong>de</strong>cisão judicial transitada em<br />

julgado.<br />

A regra legal não <strong>de</strong>ve, entretanto, ser interpretada literalmente, porque, levada a extremos, po<strong>de</strong>ria ocasionar a ruína do<br />

concessionário, muitas vezes sem que tenha sido ele o causador da interrupção ou paralisação. Parece-nos que a regra acima só<br />

tem aplicação quando o concessionário pu<strong>de</strong>r manter as condições <strong>de</strong> prestação do serviço. Não o po<strong>de</strong>ndo em virtu<strong>de</strong> do<br />

inadimplemento do conce<strong>de</strong>nte, po<strong>de</strong> recorrer à via judicial e pleitear tutela cautelar, nos termos <strong>dos</strong> arts. 301 e seguintes do CPC<br />

vigente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que presentes os pressupostos que amparam essa especial modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prestação jurisdicional – a plausibilida<strong>de</strong><br />

do direito (fumus boni iuris) e o risco <strong>de</strong> lesão irreparável (periculum in mora). Recorrendo a esse tipo especial <strong>de</strong> processo, o<br />

concessionário po<strong>de</strong>rá obter medida cautelar que tenha por fim permitir a interrupção ou paralisação imediata do serviço, sem que<br />

na ação principal possa o conce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>scumpridor atribuir-lhe culpa por tais providências. A doutrina, aliás, <strong>de</strong>staca que a<br />

inoponibilida<strong>de</strong> da exceção tem sido mitigada, quando há encargo extraordinário e insuportável para o contratado, como é o caso<br />

do inadimplemento por longos perío<strong>dos</strong>. 106<br />

18.4. Caducida<strong>de</strong><br />

Assim como o conce<strong>de</strong>nte po<strong>de</strong> dar ensejo à rescisão do contrato, o concessionário também po<strong>de</strong> <strong>de</strong>scumprir cláusulas<br />

contratuais ou normas legais e regulamentares. Po<strong>de</strong> dizer-se, por conseguinte, que tanto o conce<strong>de</strong>nte quanto o concessionário<br />

po<strong>de</strong>m ter culpa no <strong>de</strong>sfecho do ajuste.<br />

Na verda<strong>de</strong>, o inadimplemento ulterior à celebração provoca a rescisão do contrato. Quando, porém, a rescisão ocorre por<br />

inadimplemento do concessionário, a lei a <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> caducida<strong>de</strong>. Nos dizeres da lei, “a inexecução total ou parcial do<br />

contrato acarretará, a critério do po<strong>de</strong>r conce<strong>de</strong>nte, a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> caducida<strong>de</strong> da concessão”, po<strong>de</strong>ndo, ainda, o Po<strong>de</strong>r<br />

Público optar pela aplicação <strong>de</strong> sanções contratuais. 107<br />

Sem embargo da <strong>de</strong>nominação, a caducida<strong>de</strong> não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser o efeito extintivo <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> atuação culposa do<br />

concessionário, ou seja, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser o instrumento <strong>de</strong> rescisão unilateral do contrato por inadimplemento do prestador do<br />

serviço. Este é um <strong>dos</strong> fatores que ocasionam a conhecida rescisão administrativa, caracterizada como aquela que provém da<br />

vonta<strong>de</strong> unilateral da Administração. No caso, legitima-se essa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> extinção porque o concessionário <strong>de</strong>scumpre<br />

“obrigações fundamentais relativas à montagem e exploração do serviço”. 108<br />

Várias são as formas <strong>de</strong> inadimplemento do concessionário, geradoras da caducida<strong>de</strong>:

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!