02.08.2017 Views

_Manual de Direito Administrativo_(2017)_Jose dos Santos Carvalho Filho

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

coletiva para tais direitos, mas não esclarece se se trata <strong>de</strong> categoria específica <strong>de</strong> ação ou se é a mesma ação civil pública. Em<br />

que pese a confusão que se formou a respeito, parece-nos melhor consi<strong>de</strong>rar a ação civil pública como via idônea para a tutela <strong>de</strong><br />

direitos individuais homogêneos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a <strong>de</strong>fesa seja efetivamente coletiva, vale dizer, abranja grupo com significativo<br />

número <strong>de</strong> integrantes. 437<br />

Assinale-se, contudo, que a lei consi<strong>de</strong>ra incabível a ação para formular pretensões que envolvam tributos, contribuições<br />

previ<strong>de</strong>nciárias, o FGTS e outros fun<strong>dos</strong> institucionais cujos beneficiários possam ser individualmente <strong>de</strong>termina<strong>dos</strong>. 438 Nessas<br />

matérias, o autor carece da ação por falta <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong> agir. Apesar disso, há entendimento <strong>de</strong> que o Ministério Público tem<br />

legitimida<strong>de</strong> para propor ação civil pública visando à revisão <strong>de</strong> benefícios previ<strong>de</strong>nciários. 439 Ousamos divergir <strong>de</strong>ssa linha <strong>de</strong><br />

pensamento: a uma, porque os interesses sob tutela não são indisponíveis, e a duas, porque a lei é transparente no que toca à<br />

impossibilida<strong>de</strong> jurídica <strong>de</strong> pedido <strong>de</strong>ssa natureza.<br />

A <strong>de</strong>speito da relevância da tutela <strong>dos</strong> interesses transindividuais no sistema jurídico atual, não po<strong>de</strong> a ação civil pública<br />

espelhar mecanismo para a formulação <strong>de</strong> pretensões visando à ingerência em políticas públicas a cargo da Administração. De<br />

um lado, o Judiciário não po<strong>de</strong> executar funções conferidas aos órgãos administrativos e, <strong>de</strong> outro, a gestão <strong>dos</strong> interesses<br />

públicos, a fixação <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s, a execução <strong>dos</strong> orçamentos e outras ativida<strong>de</strong>s correlatas são da competência privativa da<br />

Administração. É preciso, pois, conter eventuais abusos na utilização da ação civil pública, sob pena <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>scrédito e<br />

enfraquecimento.<br />

O STJ, por exemplo, rejeitou pretensão do Ministério Público – <strong>de</strong>cisão irreparável, a nosso ver – no sentido <strong>de</strong> Município<br />

ser obrigado a instalar abrigos para crianças e adolescentes. Disse o eminente Relator que a “municipalida<strong>de</strong> tem liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

escolher on<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem ser aplicadas as verbas orçamentárias e o que <strong>de</strong>ve ter priorida<strong>de</strong>, não cabendo ao Po<strong>de</strong>r Judiciário<br />

intervir”. 440 Pretensões <strong>de</strong>ssa natureza não são cabíveis no âmbito da ação civil pública.<br />

É forçoso reconhecer, no entanto, que a matéria tem suscitado gran<strong>de</strong> polêmica e funda hesitação na doutrina e<br />

jurisprudência, po<strong>de</strong>ndo mesmo afirmar-se que ainda não se apresentou a almejada <strong>de</strong>finição. Na verda<strong>de</strong>, há algumas pretensões<br />

<strong>de</strong>terminativas acolhidas, <strong>de</strong>ntro do cenário hoje <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> ativismo judicial, pelo qual o Judiciário interfere na<br />

Administração e or<strong>de</strong>na o cumprimento <strong>de</strong> obrigações <strong>de</strong> fazer. 441 Cuida-se <strong>de</strong> tema tão polêmico e inexato que o próprio<br />

Judiciário reconhece que, em algumas situações, é impossível estabelecer, num plano abstrato, as priorida<strong>de</strong>s a serem executadas<br />

pela Administração. 442<br />

13.3. Espécies <strong>de</strong> Tutela<br />

A lei admite dois tipos <strong>de</strong> tutela <strong>dos</strong> interesses coletivos e difusos: a tutela repressiva e a tutela preventiva. A primeira<br />

ocorre quando o agente já consumou a conduta ofensiva aos cita<strong>dos</strong> interesses. Nesse caso, a ação terá a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obter a<br />

providência judicial que imponha ao agente que não mais se conduza <strong>de</strong>ssa forma e que, se for o caso, seja obrigado a reparar o<br />

dano causado.<br />

A tutela preventiva é a que preten<strong>de</strong> evitar a consumação do dano aos interesses transindividuais. Há dois mecanismos<br />

preventivos previstos na lei reguladora. O primeiro se dá através <strong>de</strong> ação cautelar (art. 4 o ) e o segundo através do que a lei<br />

<strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> “mandado liminar” (art. 12). Por isso, <strong>de</strong>ixamos consignado em obra que escrevemos a respeito que “a lei,<br />

todavia, além <strong>de</strong> admitir, no art. 4 o , a concessão <strong>de</strong> medida liminar <strong>de</strong>ntro da ação cautelar, o que é corolário natural <strong>de</strong>sse<br />

tipo <strong>de</strong> processo, admitiu-a também quando requerida na ação principal, como se vê no texto do art. 12”. 443<br />

O que é importante acentuar é a própria existência da tutela preventiva. Des<strong>de</strong> que presentes o periculum in mora e o fumus<br />

boni iuris, po<strong>de</strong>rá o juiz conce<strong>de</strong>r a medida liminar para evitar a consumação do dano ao meio ambiente, aos consumidores, ao<br />

patrimônio público, à criança e ao adolescente, aos <strong>de</strong>ficientes etc. E essa medida liminar, como visto, tanto po<strong>de</strong> ser concedida<br />

em ação cautelar específica e preparatória da ação principal ou na própria ação civil pública principal.<br />

13.4. Partes<br />

A legitimida<strong>de</strong> ativa para a causa não é genérica, como é a regra para as ações em geral. Segundo o art. 5 o da Lei n o<br />

7.347/1985, po<strong>de</strong>m ajuizar a ação:<br />

a)<br />

b)<br />

c)<br />

d)<br />

o Ministério Público; 444<br />

as pessoas <strong>de</strong> direito público (pessoas fe<strong>de</strong>rativas, autarquias e fundações autárquicas);<br />

as pessoas da Administração Indireta (empresas públicas, socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> economia mista e fundações governamentais <strong>de</strong><br />

direito privado);<br />

as associações constituídas há no mínimo um ano e que sejam preor<strong>de</strong>nadas, institucionalmente, à proteção <strong>dos</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!