02.08.2017 Views

_Manual de Direito Administrativo_(2017)_Jose dos Santos Carvalho Filho

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

e)<br />

respectivos interesses difusos e coletivos (como, por exemplo, uma associação <strong>de</strong> proteção ao meio ambiente ou <strong>de</strong><br />

proteção a <strong>de</strong>terminada área <strong>de</strong> preservação ambiental); e<br />

a Defensoria Pública.<br />

No que concerne ao Ministério Público, se é pacífica a sua legitimida<strong>de</strong> ativa para a tutela <strong>dos</strong> interesses transindividuais,<br />

incontornáveis divergências são suscitadas a respeito <strong>dos</strong> interesses individuais homogêneos, parecendo dominar o entendimento<br />

<strong>de</strong> que, nos termos do art. 127, caput, da CF, a proteção só po<strong>de</strong> alcançar tais interesses quando indisponíveis. 445<br />

A Defensoria Pública passou a constar no art. 5º, II, da Lei n o 7.347/1985, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> alteração introduzida pela Lei n o<br />

11.448/2007, integrando, portanto, o rol <strong>dos</strong> legitima<strong>dos</strong> ativos. Para alguns setores, mormente do Ministério Público, a inclusão<br />

da Defensoria revelar-se-ia inconstitucional, interpretação, a nosso ver, inteiramente <strong>de</strong>scabida. 446 Em nosso enten<strong>de</strong>r, caberia<br />

interpretação conforme a Constituição, para, com base nos arts. 134 e 5º, LXXIV, da CF, admitir-se a legitimida<strong>de</strong> para a tutela<br />

<strong>de</strong> interesses individuais homogêneos ou interesses coletivos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se configurassem como necessita<strong>dos</strong>, sendo incabível a<br />

tutela <strong>de</strong> interesses difusos, em relação aos quais é impossível i<strong>de</strong>ntificar a condição <strong>dos</strong> beneficiários. O STF, contudo, conferiu<br />

ampla interpretação ao dispositivo, admitindo sua aplicação para interesses <strong>de</strong> qualquer categoria. Fundou-se a Corte no<br />

argumento <strong>de</strong> que a distinção da natureza <strong>dos</strong> direitos sob tutela implicaria violação ao art. 3º da CF. 447 A <strong>de</strong>cisão causa<br />

estranheza porque, além <strong>de</strong> fundar-se em dispositivo constitucional que não tem relação com o foco da discussão, como é o caso<br />

do art. 3º da CF, <strong>de</strong>sviou-se do fato mobilizador da atuação da Defensoria, qual seja, a <strong>de</strong>fesa <strong>dos</strong> necessita<strong>dos</strong>, como consta do<br />

art. 134, da CF. Seja como for, pela sua importância no sistema, será sempre bem-vinda a legitimação da Defensoria Pública, que<br />

sempre contribuiu em muito para reduzir <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais.<br />

No polo passivo, não há qualquer especificida<strong>de</strong>. Quem quer que se conduza <strong>de</strong> forma ofensiva a tais interesses, seja pessoa<br />

física ou jurídica, pública ou privada, será o <strong>de</strong>mandado na ação civil pública. A legitimação passiva, por conseguinte, é daquele<br />

cuja conduta vulnerar os interesses sob tutela. 448<br />

13.5.<br />

Sentença e Coisa Julgada<br />

A sentença, na ação civil pública, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá da natureza do pedido formulado na ação, que po<strong>de</strong> variar conforme o caso.<br />

Dita o art. 3 o da Lei n o 7.347/1985 que “a ação civil po<strong>de</strong>rá ter por objeto a con<strong>de</strong>nação em dinheiro ou o cumprimento <strong>de</strong><br />

obrigação <strong>de</strong> fazer ou não fazer”. No primeiro caso, se proce<strong>de</strong>nte a ação, a sentença terá conteúdo con<strong>de</strong>natório pecuniário, já<br />

que o réu será con<strong>de</strong>nado a pagar em dinheiro a in<strong>de</strong>nização pelos danos causa<strong>dos</strong> por sua conduta ofensiva. No segundo, a<br />

sentença terá natureza con<strong>de</strong>natória mandamental (ou simplesmente mandamental), pois que caberá ao réu cumprir obrigação <strong>de</strong><br />

fazer ou não fazer <strong>de</strong>terminada pelo juiz. No caso <strong>de</strong> improcedência, a sentença terá natureza <strong>de</strong>claratória negativa, já que estará<br />

<strong>de</strong>clarando que o réu não vulnerou os interesses transindividuais sob tutela. 449<br />

A Lei n o 7.347/1985 só previu essas duas formas <strong>de</strong> tutela. Todavia, a Lei n o 8.078/1990 (o Código do Consumidor) passou<br />

a admitir hipóteses em que o pedido é o <strong>de</strong> anulação <strong>de</strong> atos ou <strong>de</strong> cláusulas contratuais. 450 A Lei n o 8.625/1993 (Lei Orgânica<br />

Nacional do Ministério Público), a seu turno, também admite a ação civil pública para invalidação <strong>de</strong> atos. 451 Em tais casos, a<br />

sentença que acolher a pretensão terá a natureza constitutiva (ou <strong>de</strong>sconstitutiva), já que extinguirá relação jurídica anteriormente<br />

formada. Se improce<strong>de</strong>nte a <strong>de</strong>cisão, a sentença também será <strong>de</strong>claratória negativa.<br />

Em relação à coisa julgada, repetimos aqui o que dissemos a respeito da ação popular, cujo art. 18 serviu <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo para o<br />

art. 16 da Lei n o 7.347/1985. Em termos idênticos, reza o dispositivo que a sentença civil fará coisa julgada erga omnes, salvo no<br />

caso em que a ação for julgada improce<strong>de</strong>nte por <strong>de</strong>ficiência da prova, hipótese em que qualquer legitimado po<strong>de</strong>rá ajuizar nova<br />

ação com o mesmo fundamento, socorrendo-se <strong>de</strong> nova prova. 452<br />

A regra será a produção da coisa julgada erga omnes. Será, todavia, inter partes quando a prova for <strong>de</strong>ficiente, e nesse caso<br />

po<strong>de</strong>rá ser ajuizada nova ação para o mesmo fim, recorrendo o autor à nova prova. Mais uma vez o legislador, por questão <strong>de</strong><br />

política legislativa, preocupou-se em não <strong>de</strong>ixar que o trânsito em julgado da <strong>de</strong>cisão improce<strong>de</strong>nte, por questão <strong>de</strong> prova,<br />

<strong>de</strong>ixasse sem proteção, para o futuro, os interesses coletivos e difusos. Fixando esse efeito limitado, o legislador permite que tais<br />

interesses sejam <strong>de</strong>fendi<strong>dos</strong> em ação idêntica, na qual outra (e melhor) prova possa ser produzida para <strong>de</strong>monstrar a violação por<br />

parte do réu. Vigora aqui, mais uma vez, o princípio da renovabilida<strong>de</strong> da ação, calcado na relevância que merecem os interesses<br />

sob tutela. 453<br />

Releva notar que, tendo em vista a natureza singular do pedido e da sentença na ação civil pública, somente se admite o<br />

controle inci<strong>de</strong>ntal <strong>de</strong> constitucionalida<strong>de</strong> se o propósito do autor não for o <strong>de</strong> obter, por linha transversa, a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong><br />

inconstitucionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lei ou ato normativo, matéria <strong>de</strong> competência reservada ao STF e, portanto, insuscetível <strong>de</strong> usurpação<br />

pela Justiça <strong>de</strong> primeiro grau. 454

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!