02.08.2017 Views

_Manual de Direito Administrativo_(2017)_Jose dos Santos Carvalho Filho

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

evista, sobretudo reduzida, quando houver real justificativa para tanto.<br />

Caso o conce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>seje reduzir o valor da tarifa, <strong>de</strong>ve compensar o concessionário para que seja mantido o equilíbrio<br />

econômico-financeiro do contrato, seja através da redução <strong>dos</strong> ônus e encargos atribuí<strong>dos</strong> contratualmente ao concessionário, seja<br />

por meio <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização paga pelo conce<strong>de</strong>nte, correspon<strong>de</strong>nte ao que o concessionário <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> arrecadar em razão da redução<br />

tarifária. 46 As tentativas <strong>de</strong> redução unilateral da tarifa sem previsão contratual ou sem a <strong>de</strong>vida compensação têm sido<br />

consi<strong>de</strong>radas abusivas e corretamente anuladas pelo Judiciário. 47<br />

Diversa, contudo, é a situação do i<strong>dos</strong>o. A Constituição assegurou aos maiores <strong>de</strong> 65 anos gratuida<strong>de</strong> nos transportes<br />

coletivos urbanos (art. 230, § 2 o ). A Lei n o 10.741/2003 (Estatuto do I<strong>dos</strong>o), no art. 39, caput, reproduziu a garantia. Sendo o<br />

mandamento constitucional <strong>de</strong> eficácia plena e aplicabilida<strong>de</strong> imediata, a lei nada fez senão consagrar a efetivida<strong>de</strong> normativa, e,<br />

<strong>de</strong>sse modo, o benefício in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria <strong>de</strong> fonte <strong>de</strong> custeio. Entretanto, em virtu<strong>de</strong> do princípio do equilíbrio econômico-financeiro<br />

do contrato, <strong>de</strong>ve assegurar-se aos <strong>de</strong>legatários do serviço (concessionários e permissionários) o direito <strong>de</strong> pleitear do <strong>de</strong>legante<br />

eventual compensação no caso <strong>de</strong> haver prejuízo para o prestador, fato, aliás, que exigirá sempre <strong>de</strong>talhada <strong>de</strong>monstração através<br />

das respectivas planilhas <strong>de</strong> custo. A eficácia do preceito, todavia, é integral e sua aplicabilida<strong>de</strong>, exigível e imediata. 48<br />

Dentro do mesmo aspecto social, a Lei n o 8.899, <strong>de</strong> 29.6.1994, conce<strong>de</strong>u passe livre às pessoas portadoras <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência,<br />

comprovadamente carentes, no sistema <strong>de</strong> transporte coletivo interestadual. Com fundamento no princípio da solidarieda<strong>de</strong><br />

social, previsto no art. 3 o da CF, o STF consi<strong>de</strong>rou a lei constitucional, afastando o argumento <strong>de</strong> que estaria havendo ofensa ao<br />

equilíbrio econômico-financeiro <strong>dos</strong> contratos <strong>de</strong> concessão e permissão, pois que tal aspecto po<strong>de</strong>ria ser analisado quando da<br />

<strong>de</strong>finição das tarifas nas negociações contratuais. 49 Dois aspectos, no entanto, merecem exame, em nosso enten<strong>de</strong>r.<br />

Primeiramente, a aferição do eventual <strong>de</strong>sequilíbrio contratual não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da negociação futura da tarifa, mas inci<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

imediato, cabendo ao conce<strong>de</strong>nte, porém, arcar com os custos do restabelecimento da equação. Em segundo lugar, a referida lei<br />

foi editada <strong>de</strong>ntro da competência da União para legislar sobre transporte coletivo interestadual, só incidindo sobre esse serviço;<br />

resulta, pois, ser inaplicável para o transporte intermunicipal e intramunicipal – serviços da competência legislativa e<br />

regulamentadora, respectivamente, <strong>dos</strong> Esta<strong>dos</strong> e <strong>dos</strong> Municípios.<br />

Sobre a questão do pedágio em rodovias sob o regime <strong>de</strong> concessão, tem sido discutida a questão da ilegitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua<br />

cobrança quando inexiste via alternativa para os usuários, o que ofen<strong>de</strong>ria o direito <strong>de</strong> locomoção. Em nosso enten<strong>de</strong>r, o Po<strong>de</strong>r<br />

Público, em certas circunstâncias, <strong>de</strong>veria realmente disponibilizar outra via <strong>de</strong> circulação para os usuários mais <strong>de</strong>sprovi<strong>dos</strong> <strong>de</strong><br />

recursos. A verda<strong>de</strong>, porém, é que o art. 9 o , § 1 o , da Lei n o 8.987/1995 não instituiu essa obrigação, limitando-se a consignar que,<br />

somente nos casos expressamente previstos em lei, po<strong>de</strong>ria a tarifa ser “condicionada à existência <strong>de</strong> serviço público alternativo<br />

e gratuito para o usuário”. Portanto, para que o Po<strong>de</strong>r Público seja compelido àquela obrigação, necessário se torna que a lei<br />

expressamente o preveja; sem essa previsão, a Administração atuará discricionariamente quanto à criação, ou não, da via<br />

alternativa. 50<br />

Outro aspecto que merece <strong>de</strong>staque diz respeito à competência para a outorga da concessão: a questão sobre alterações<br />

contratuais só po<strong>de</strong> ser discutida entre a pessoa fe<strong>de</strong>rativa que outorgou a concessão e o respectivo concessionário. Bem<br />

<strong>de</strong>finindo a matéria, o STF já teve a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir pela suspensão cautelar <strong>de</strong> dispositivo <strong>de</strong> lei estadual que estabeleceu<br />

suspensão temporária do pagamento das tarifas <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> energia elétrica, água e esgoto em favor <strong>dos</strong> trabalhadores que não<br />

dispunham <strong>de</strong> qualquer remuneração. Enten<strong>de</strong>u o referido Tribunal que o Estado não po<strong>de</strong>ria interferir na relação contratual entre<br />

o conce<strong>de</strong>nte (no caso, os Governos Fe<strong>de</strong>ral e municipal) e os respectivos concessionários (art. 175, parágrafo único, I e III, CF).<br />

Além disso, não po<strong>de</strong>ria alterar as condições preestabelecidas na licitação, fato que ensejaria ofensa ao art. 37, XXI, da vigente<br />

Constituição. 51<br />

Algumas tarifas são cobradas através <strong>de</strong> contas <strong>de</strong> consumo entregues na própria residência do usuário ou no local on<strong>de</strong> se<br />

processou o consumo. Tais contas <strong>de</strong>vem ser distribuídas pelos Correios ou pela própria empresa concessionária, e não por<br />

empresa privada por esta contratada para tal serviço. O STJ já <strong>de</strong>cidiu que “a execução conferida às concessionárias <strong>de</strong> serviço<br />

público não lhes outorgou a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contratação <strong>de</strong> empresas particulares para o serviço <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> contas <strong>de</strong><br />

consumo”, e isso porque, admitindo-se a contratação, a concessionária estaria vulnerando, por via oblíqua, o monopólio do<br />

serviço postal atribuído à União (art. 21, X, CF) e <strong>de</strong>legado à empresa pública fe<strong>de</strong>ral criada exatamente para tal fim: a ECT –<br />

Empresa Brasileira <strong>de</strong> Correios e Telégrafos. 52<br />

Reiteramos aqui o que já assinalamos anteriormente: no que diz respeito ao pagamento in<strong>de</strong>vido <strong>de</strong> tarifas, a prescrição para<br />

a ação <strong>de</strong> repetição <strong>de</strong> indébito é a prevista no Código Civil, já que a relação jurídica não tem natureza tributária nem se<br />

configura como relação típica <strong>de</strong> consumo. 53<br />

Por fim, vale <strong>de</strong>stacar, como já observamos anteriormente, que, em matéria <strong>de</strong> política tarifária, tem sido admitida a<br />

<strong>de</strong>nominada tarifa mínima, <strong>de</strong>vida pela só disponibilização do serviço concedido, à semelhança do que ocorre com o sistema <strong>de</strong><br />

taxas. 54 Sem embargo do fundamento apontado para admitir esse tipo <strong>de</strong> cobrança – a política <strong>de</strong> implementação e manutenção<br />

da estrutura necessária à prestação do serviço –, enten<strong>de</strong>mos que o fato reflete inegável distorção no sistema <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!