02.08.2017 Views

_Manual de Direito Administrativo_(2017)_Jose dos Santos Carvalho Filho

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

estrutura orgânica. 14<br />

A propósito, foi editada a Lei n o 11.668, <strong>de</strong> 2.5.2008, que, disciplinando o contrato <strong>de</strong> franquia postal, no qual é contratante<br />

a ECT – Empresa Brasileira <strong>de</strong> Correios e Telégrafos, indicou que sua regência complementar se processa pela aplicação das Leis<br />

n os 10.406/2002 (Código Civil), 8.955/1994 (regula a franquia empresarial) e 8.666/1993 (Estatuto <strong>dos</strong> Contratos e Licitações).<br />

Semelhante indicação comprova, sem dúvida, que se trata <strong>de</strong> contrato tipicamente <strong>de</strong> direito privado, com uma ou outra<br />

<strong>de</strong>rrogação por norma <strong>de</strong> direito público, <strong>de</strong> caráter excepcional. Assim, os particulares que executam ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> franquia<br />

postal caracterizam-se como franquea<strong>dos</strong>, e não como concessionários. 15<br />

4.2. Concessão e Permissão<br />

Não é incomum ser feita certa confusão entre a concessão e a permissão <strong>de</strong> serviço público. A confusão, po<strong>de</strong>-se dizer, até<br />

se justifica diante da circunstância <strong>de</strong> que ambas almejam o mesmo objeto – a prestação <strong>de</strong> um serviço público.<br />

Tradicionalmente, a diferença residia em que a concessão <strong>de</strong> serviço público era caracterizada como contrato administrativo,<br />

ao passo que a permissão <strong>de</strong> serviço público se qualificava como ato administrativo. Dessa distinção quanto à caracterização<br />

formal <strong>dos</strong> institutos emanavam nitidamente algumas consequências jurídicas diversas, como as relativas à in<strong>de</strong>nizabilida<strong>de</strong>, à<br />

precarieda<strong>de</strong>, à estabilida<strong>de</strong> da <strong>de</strong>legação etc.<br />

Entretanto, a Lei n o 8.987/1995, <strong>de</strong> modo surpreen<strong>de</strong>nte e equivocado, atribuiu à permissão <strong>de</strong> serviço público a natureza <strong>de</strong><br />

contrato <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são (art. 40), provocando justificável confusão sobre essa forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>legação. Com essa fisionomia, atualmente<br />

inexiste, na prática, distinção entre a concessão e a permissão <strong>de</strong> serviço público. De qualquer modo, mencionaremos os frágeis<br />

pontos distintivos ao comentarmos adiante a natureza das permissões. Parece-nos ter sido infeliz a qualificação da permissão<br />

como contrato, feita pelo art. 175, parágrafo único, I, da CF, e pela Lei nº 8.987/1995. De um lado, inexistiu razão plausível para<br />

tanto e, <strong>de</strong> outro, porque, ao invés <strong>de</strong> elucidar, veio a criar enorme e injustificável confusão, o que atrita com o caráter científico<br />

do direito.<br />

5.<br />

A RELAÇÃO CONTRATUAL<br />

O contrato <strong>de</strong> concessão é bilateral, visto que gera obrigações para ambos os contratantes; comutativo, porque não existe<br />

álea, ou seja, são equivalentes e previamente i<strong>de</strong>ntificadas as obrigações das partes; intuitu personae, eis que o concessionário<br />

não po<strong>de</strong> ce<strong>de</strong>r suas obrigações, e, sobretudo, o serviço que lhe foi <strong>de</strong>legado, a terceiros, sem prévio assentimento do<br />

conce<strong>de</strong>nte; 16 e formal, já que necessária é a formalização das vonta<strong>de</strong>s e o mais <strong>de</strong>talhado lineamento das obrigações cominadas<br />

aos contratantes.<br />

6.<br />

A SUPREMACIA DO CONCEDENTE<br />

Sendo a concessão um contrato administrativo, constitui característica natural do ajuste a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> das partes, <strong>de</strong> modo a<br />

conferir posição <strong>de</strong> supremacia ao po<strong>de</strong>r conce<strong>de</strong>nte. Aliás, se esta é característica <strong>dos</strong> <strong>de</strong>mais contratos administrativos, em que a<br />

relação jurídica se cinge ao Estado e ao particular, com maior razão teria que sê-lo para as concessões, que, como visto, exigem<br />

também a participação <strong>dos</strong> membros da coletivida<strong>de</strong>, não só como <strong>de</strong>stinatários do serviço, mas também como responsáveis pelo<br />

pagamento das tarifas.<br />

Como corolário da prepon<strong>de</strong>rância do Estado nos contratos administrativos, inci<strong>de</strong>m na concessão as cláusulas <strong>de</strong> privilégio,<br />

ou exorbitantes, que são certas prerrogativas expressamente atribuídas ao Estado nos contratos administrativos. 17 A Lei n o<br />

8.987/1995 previu, em mais <strong>de</strong> uma passagem, aspectos que retratam essa prepon<strong>de</strong>rância. Cite-se, como exemplo, o art. 23, V,<br />

que admite possíveis alterações no contrato, e o art. 37, que contempla a retomada do serviço pela encampação, fundada em<br />

motivos <strong>de</strong> interesse público.<br />

7.<br />

A NATUREZA DO CONCESSIONÁRIO E DO CONCEDENTE<br />

Na concepção clássica, a doutrina admitia que o serviço público fosse <strong>de</strong>legado à pessoa física ou jurídica. 18 A lei não<br />

admitiu a <strong>de</strong>legação do serviço a pessoas físicas, mas apenas a pessoas jurídicas ou a consórcio <strong>de</strong> empresas. A exigência,<br />

inclusive, foi estendida também às concessões <strong>de</strong> serviço público precedidas da execução <strong>de</strong> obra pública (art. 2 o , II e III, do<br />

Estatuto das Concessões).<br />

Em face da exigência legal, a comprovação da personalida<strong>de</strong> jurídica do concessionário ou da regularida<strong>de</strong> do consórcio <strong>de</strong><br />

empresas constitui requisito inafastável para a valida<strong>de</strong> da contratação. Sem sua observância, o contrato apresentará vício <strong>de</strong><br />

legalida<strong>de</strong> quanto à figura do concessionário.<br />

Quanto à natureza do conce<strong>de</strong>nte, po<strong>de</strong>-se afirmar que tradicionalmente foi representado pela figura do Estado ou, no caso

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!