02.08.2017 Views

_Manual de Direito Administrativo_(2017)_Jose dos Santos Carvalho Filho

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

direito privado, estando reguladas nos arts. 62 a 69 do Código Civil.<br />

Esse tipo <strong>de</strong> entida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> abstrair-se da figura daquele que faz a dotação patrimonial – o instituidor – e, embora a lei<br />

civil não seja expressa, é também inerente às fundações sua finalida<strong>de</strong> social, vale dizer, a perseguição a objetivos que, <strong>de</strong><br />

alguma forma, produzam benefícios aos membros da coletivida<strong>de</strong>. Essa finalida<strong>de</strong> as distancia <strong>de</strong> alvos que visem à percepção<br />

<strong>de</strong> lucros, <strong>de</strong>ixando-as em agrupamento diverso daquele em que se encontram, por exemplo, as socieda<strong>de</strong>s comerciais. Po<strong>de</strong><br />

mesmo dizer-se que são essas as características básicas das fundações: 1ª) a figura do instituidor; 2ª) o fim social da entida<strong>de</strong>; e<br />

3ª) a ausência <strong>de</strong> fins lucrativos.<br />

Foi com esse parâmetro que nasceram as fundações públicas, sem alteração, inclusive, <strong>dos</strong> cita<strong>dos</strong> elementos básicos<br />

caracterizadores. Mudança, na verda<strong>de</strong>, temos apenas na natureza do instituidor, que agora passou a ser o Estado. Desse modo,<br />

po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar, já <strong>de</strong> início, uma primeira divisão para as fundações:<br />

1.<br />

2.<br />

as fundações privadas, instituídas por pessoas da iniciativa privada; e<br />

as fundações públicas, quando o Estado tiver sido o instituidor.<br />

Na prática, várias têm sido as <strong>de</strong>nominações atribuídas às fundações públicas: fundações instituídas pelo Po<strong>de</strong>r Público,<br />

fundações instituídas e mantidas pelo Po<strong>de</strong>r Público (art. 71, III, CF), fundações controladas pelo Po<strong>de</strong>r Público (art. 163, II,<br />

CF), fundações sob controle estatal (art. 8, § 5, ADCT, CF), fundações públicas (art. 19, ADCT, CF), fundações<br />

governamentais e outras do gênero. O rótulo não tem gran<strong>de</strong> importância. O ponto que <strong>de</strong>ve ser lembrado é realmente o <strong>de</strong> que<br />

essas fundações são criadas pelo Po<strong>de</strong>r Público, que, por isso mesmo, assume o papel <strong>de</strong> instituidor das entida<strong>de</strong>s.<br />

2.<br />

A POLÊMICA SOBRE A NATUREZA JURÍDICA DAS FUNDAÇÕES<br />

A gran<strong>de</strong> discussão que se tem travado, há algum tempo, sobre as fundações públicas diz respeito à natureza jurídica das<br />

entida<strong>de</strong>s. Está longe ainda o momento <strong>de</strong> pacificação <strong>dos</strong> diversos pensamentos que tratam da questão da personalida<strong>de</strong> jurídica<br />

das fundações instituídas pelo Po<strong>de</strong>r Público, o que é realmente lamentável. Como se verá adiante, a discussão nada acrescenta<br />

ao tecnicismo jurídico, mas, ao contrário, cria gran<strong>de</strong> confusão no meio jurídico, nos Tribunais e no próprio seio da<br />

Administração, provocando claramente, como já tivemos oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> presenciar, algumas reações irônicas por parte<br />

daqueles aos quais é apresentada a discussão.<br />

Há duas correntes sobre a matéria.<br />

A primeira, hoje dominante, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a existência <strong>de</strong> dois tipos <strong>de</strong> fundações públicas: as fundações <strong>de</strong> direito público e as<br />

<strong>de</strong> direito privado, aquelas ostentando personalida<strong>de</strong> jurídica <strong>de</strong> direito público e estas sendo dotadas <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> jurídica<br />

<strong>de</strong> direito privado. Por esse entendimento, as fundações <strong>de</strong> direito público são caracterizadas como verda<strong>de</strong>iras autarquias, razão<br />

por que são <strong>de</strong>nominadas, algumas vezes, <strong>de</strong> fundações autárquicas ou autarquias fundacionais. Seriam elas uma espécie do<br />

gênero autarquias. 176<br />

O STF optou por esse entendimento, quando <strong>de</strong>ixou assentado que “nem toda fundação instituída pelo Po<strong>de</strong>r Público é<br />

fundação <strong>de</strong> direito privado. As fundações, instituídas pelo Po<strong>de</strong>r Público, que assumem a gestão <strong>de</strong> serviço estatal e se<br />

submetem a regime administrativo previsto, nos Esta<strong>dos</strong>-membros, por leis estaduais, são fundações <strong>de</strong> direito público, e,<br />

portanto, pessoas jurídicas <strong>de</strong> direito público. Tais fundações são espécie do gênero autarquia, aplicando-se a elas a vedação a<br />

que alu<strong>de</strong> o § 2 o do art. 99 da Constituição Fe<strong>de</strong>ral”. 177 Noutro giro, há autores que sustentam tratar-se <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> distintas<br />

categorias. 178<br />

A segunda corrente advoga a tese <strong>de</strong> que, mesmo instituídas pelo Po<strong>de</strong>r Público, as fundações públicas têm sempre<br />

personalida<strong>de</strong> jurídica <strong>de</strong> direito privado, inerente a esse tipo <strong>de</strong> pessoas jurídicas. O fato <strong>de</strong> ser o Estado o instituidor não<br />

<strong>de</strong>smente a caracterização <strong>de</strong>ssas entida<strong>de</strong>s, até porque é o Estado quem dá criação a socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> economia mista e a empresas<br />

públicas, e essas entida<strong>de</strong>s, como já visto, têm personalida<strong>de</strong> jurídica <strong>de</strong> direito privado.<br />

Essa era a opinião clássica <strong>de</strong> HELY LOPES MEIRELLES, para quem constituía uma contradictio in terminis expressões<br />

como autarquias fundacionais ou fundações públicas, explicando que se a entida<strong>de</strong> era uma fundação estaria ínsita sua<br />

personalida<strong>de</strong> privada e que, se era uma autarquia, a personalida<strong>de</strong> seria <strong>de</strong> direito público. Advertia o sau<strong>dos</strong>o jurista que “uma<br />

entida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong>, ao mesmo tempo, ser fundação e autarquia; ser pessoas <strong>de</strong> direito privado e ter personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> direito<br />

público! E rematava: o fato <strong>de</strong> o Estado servir-se <strong>de</strong> instituto <strong>de</strong> direito privado para a realização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interesse<br />

público não transfigura a instituição civil em entida<strong>de</strong> pública, nem autarquiza esse meio <strong>de</strong> ação particular”. 179<br />

Com o advento da Constituição <strong>de</strong> 1988, o autor passou a enten<strong>de</strong>r que a referência a fundações públicas e <strong>de</strong>nominações<br />

análogas permitia inferir que tais entida<strong>de</strong>s teriam personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> direito público. Apesar disso, mostrava ainda certo<br />

inconformismo em relação à posição adotada pelo STF: “Não enten<strong>de</strong>mos como uma entida<strong>de</strong> (fundação) possa ser espécie <strong>de</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!