Comentário de Salmos - Vol. 2

Salmo 66 • 607
harmonia com o contexto, e sendo o significado das palavras que Deus
é investido do poder necessário para exercer o governo do mundo. O
que se segue concorda com isso: seus olhos contemplam as nações.
Sob o regime da lei, a Judéia foi a própria sede de seu reino; mas sua
providência sempre se estendeu ao mundo de forma abrangente; e o
especial favor demonstrado à posteridade de Abraão, em consideração
do pacto, não o impediu de estender seus olhos de providencial
consideração para as nações circunvizinhas. Como evidência de seu
cuidado que alcança os diferentes países em redor, ele observa os
juízos que Deus executava sobre os maus e os ímpios. Observa ainda
que nenhuma parte da família humana fora ignorada por Deus, fazendo
referência ao fato do castigo infligido sobre os malfeitores. É possível
que haja muito na divina administração do mundo que nos leve
a perplexas conclusões; mas há sempre alguns sinais de seus juízos
que podem ser vistos, e estes são suficientemente claros para abrir os
olhos a um observador crítico e atento.
8. Bendizei, ó povos, ao nosso Deus! Embora convoque a todos,
sem exceção, a que louvassem a Deus, sua referência é particularmente
a certas interferências divinas em favor da Igreja. Tudo indica que
ele aqui está a sugerir que os gentios se destinavam, num período futuro,
a participar do favor agora exclusivamente desfrutado pelo povo
eleito de Deus. Entrementes, ele lembra-lhes da magistral e memorável
natureza do livramento concedido, convocando-os a divulgar amplamente
a fama do mesmo. Ainda que fale do povo hebreu como tendo
sido trazido de volta à vida (expressão esta tencionada a denotar livramento
de um tipo mais que ordinário), isto significa que haviam sido
preservados de perigo iminente, mais que recuperados de uma calamidade
que realmente lhes sucedera. Diz-se que não se permitiu que
seus pés resvalassem, o que implica que, através de oportuno socorro
sobre o mundo; e assim a Caldaica certamente entendia, a qual traduz: ‘que exerce domínio sobre
o mundo’; e assim presumo que a LXX, ao redigir, ‘δεσπόξουτι τοῦ ἀιῶνος’, ‘tendo domínio sobre
o mundo’, teve a idéia.” A Vulgata, neste caso, não seguindo a Septuaginta, traz: “in aeternum”,
“para sempre, eternamente”.