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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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Capítulo 2 • 103<br />

justiça, a qual supria o lugar da lei [escrita], por meio da qual os ju<strong>de</strong>us<br />

são instruídos, <strong>de</strong> modo a se tornarem lei para si próprios. 11<br />

15. Nisto eles mostram a obra da lei 12 escrita em seus corações, ou,<br />

seja: eles provam que há impressa em seus corações certa discriminação<br />

e juízo, por meio dos quais po<strong>de</strong>m distinguir entre justiça e injustiça,<br />

honestida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>sonestida<strong>de</strong>. Paulo não diz que a obra da lei se acha<br />

esculpida em sua vonta<strong>de</strong>, <strong>de</strong> modo a buscarem-na e perseguirem-na<br />

diligentemente, mas que se acham tão assenhoreados pelo po<strong>de</strong>r da<br />

verda<strong>de</strong>, que não têm como <strong>de</strong>saprová-la. Não teriam instituído ritos<br />

religiosos, se não estivessem convencidos <strong>de</strong> que Deus <strong>de</strong>ve ser adorado;<br />

nem se envergonhariam <strong>de</strong> adultério e <strong>de</strong> latrocínio, se os não<br />

consi<strong>de</strong>rassem como algo em extremo nocivo.<br />

Não há qualquer base para <strong>de</strong>duzir-se <strong>de</strong>sta passagem o po<strong>de</strong>r da<br />

vonta<strong>de</strong>, como se Paulo dissesse que a observância da lei é algo que se<br />

acha em nosso po<strong>de</strong>r, visto que ele não está falando <strong>de</strong> nosso po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

cumprir a lei, e, sim, <strong>de</strong> nosso conhecimento <strong>de</strong>la. O termo corações não<br />

<strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado como a se<strong>de</strong> das afeições, mas simplesmente como<br />

se referindo ao entendimento, como em Deuteronômio 29.4: “Porém, o<br />

Senhor não vos <strong>de</strong>u coração para enten<strong>de</strong>r”; e Lucas 24.25: “Ó néscios e<br />

tardos <strong>de</strong> coração para crer [enten<strong>de</strong>r] tudo o que os profetas disseram!”<br />

Não po<strong>de</strong>mos concluir <strong>de</strong>sta passagem que há no ser humano um<br />

pleno conhecimento da lei, mas tão-somente que há algumas sementes<br />

<strong>de</strong> justiça implantadas em sua natureza. Isto é evi<strong>de</strong>nciado por fatos<br />

como estes, a saber: que todos os gentios, igualmente, instituem ritos<br />

11 Quanto à frase, “estes têm para si uma lei”, Venema apresenta exemplos clássicos – “πα̑ν<br />

τὸ βέλτιστον φαινόμενον ἔστω σοι νόμος ἀπαράβατος. Seja qual parecer melhor, seja para ti<br />

uma lei perpétua.” – Epict. in Ench., c. 75. “τὸ μὲν ορθὸν νόμος ἐστὶ βασιληκός – O que <strong>de</strong> fato<br />

é correto, uma lei real.” – Platão, in Min., p. 317.<br />

Os próprios pagãos reconheciam uma lei da natureza. Turrettin cita uma passagem <strong>de</strong><br />

uma obra perdida <strong>de</strong> Cícero, retida por Lactâncio, a qual notavelmente coinci<strong>de</strong> com a<br />

linguagem <strong>de</strong> Paulo aqui.<br />

12 Por obras da lei, τὸ ἔργον του̑ νόμου, <strong>de</strong>ve-se enten<strong>de</strong>r o que a lei requer. A “obra <strong>de</strong> Deus”,<br />

em João 6.29, é do mesmo teor, a saber: a obra que Deus requer ou exige; e a mesma palavra<br />

é plural no versículo anterior, τὰ ἔργα – “as obras <strong>de</strong> Deus”. Assim aqui, no versículo<br />

anterior, é τὰ του̑ νόμου – “as coisas da lei”, daí po<strong>de</strong>rmos supor que ἔργα está implícito. A<br />

expressão comum, “as obras da lei”, tem o mesmo significado, a saber: obras tais como a<br />

lei prescreve e requer.

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