27.05.2014 Views

Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Capítulo 3 • 151<br />

pecador. Por isso, a ficção criada por alguns <strong>de</strong> uma justiça parcial<br />

é suficientemente refutada. Se porventura tivesse base o conceito<br />

<strong>de</strong> que somos parcialmente justificados pelas obras e parcialmente<br />

pela graça <strong>de</strong> Deus, então este argumento <strong>de</strong> Paulo, <strong>de</strong> que todos se<br />

acham privados da glória <strong>de</strong> Deus por serem pecadores, careceria <strong>de</strong><br />

qualquer força. Portanto, o certo é que não há justiça on<strong>de</strong> o pecado<br />

se faz presente, até que Cristo elimine a maldição. É precisamente<br />

isso o que Paulo está a <strong>de</strong>clarar em Gálatas 3.10, a saber: que todos<br />

quantos se acham <strong>de</strong>baixo da lei estão expostos à maldição, e que<br />

somos libertados <strong>de</strong>la somente através da munificência <strong>de</strong> Cristo.<br />

A glória <strong>de</strong> Deus significa a glória que está na presença <strong>de</strong> Deus,<br />

como em João 12.43, on<strong>de</strong> nos diz nosso Senhor que amaram mais<br />

a glória dos homens do que a glória <strong>de</strong> Deus. Assim o apóstolo nos<br />

arrebata do aplauso dos palcos humanos e nos coloca diante do<br />

tribunal celestial. 32<br />

24. Sendo justificados gratuitamente por sua graça. O particípio<br />

do verbo é usado aqui <strong>de</strong> acordo com o costume grego. Eis o significado:<br />

visto que não é <strong>de</strong>ixado ao homem, intrinsecamente, senão o<br />

fato <strong>de</strong> que ele perece acossado pelo justo juízo <strong>de</strong> Deus, por isso é<br />

que todos são justificados gratuitamente pela misericórdia divina.<br />

Pois Cristo vem em socorro das misérias humanas e se comunica<br />

com os crentes, <strong>de</strong> modo que tão-somente encontrem nele todas as<br />

coisas <strong>de</strong> que carecem. É provável que não haja na Escritura nenhuma<br />

outra passagem que ilustre <strong>de</strong> forma tão extraordinária a eficácia<br />

<strong>de</strong>sta justiça, pois <strong>de</strong>monstra que a misericórdia divina é a causa<br />

eficiente; Cristo e seu sangue, a causa material; a fé, concebida pela<br />

32 Beza formula outro ponto <strong>de</strong> vista, dizendo que o verbo ὑστερου̑νται se refere aos que<br />

correm numa corrida e não alcançam o alvo e per<strong>de</strong>m o prêmio. A “glória <strong>de</strong> Deus” é a<br />

felicida<strong>de</strong> que ele outorga [veja-se 5.2]; <strong>de</strong>sta toda a humanida<strong>de</strong> não tem parte, por mais<br />

que alguns pareçam lutar tanto por ela; e a mesma só po<strong>de</strong> ser obtida pela fé. Pareus,<br />

Locke e Whitby dão o mesmo parecer. Outros consi<strong>de</strong>ram ser ela “a glória” <strong>de</strong>vida a Deus<br />

– a qual não se obtém senão através do serviço e honra que ele justamente <strong>de</strong>manda e<br />

requer. Assim pensam Doddridge, Scott e Chalmers. Mas Melancthon, Grotius e Macknight<br />

pareciam ter concordado com Calvino em consi<strong>de</strong>rar ‘glória’ aqui como o louvor ou a<br />

aprovação que vem <strong>de</strong> Deus. O segundo ponto <strong>de</strong> vista parece o mais apropriado, segundo<br />

o que se diz em 1.21: “não o glorificaram como Deus.”

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!