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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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306 • Comentário <strong>de</strong> <strong>Romanos</strong><br />

E, com efeito, con<strong>de</strong>nou Deus, na carne, o pecado. Já mencionei<br />

que isto é explicado por alguns como sendo a causa ou propósito<br />

pelo qual Deus enviou seu Filho, ou seja, para fazer in<strong>de</strong>nização pelo<br />

pecado. Crisóstomo, e muitos outros <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>le, enten<strong>de</strong>ram esta<br />

frase num sentido bastante estranho, ou seja: o pecado foi con<strong>de</strong>nado<br />

por causa do pecado [<strong>de</strong> peccato], visto que ele açambarcou Cristo<br />

injusta e contrariamente ao que <strong>de</strong> fato merecia. Concordo que o<br />

preço <strong>de</strong> nossa re<strong>de</strong>nção foi pago com este recurso, visto que um<br />

justo e inocente suportou o castigo em favor <strong>de</strong> pecadores, porém<br />

não posso induzir-me a pensar que a palavra pecado haja sido usada,<br />

aqui, em algum outro sentido além <strong>de</strong> uma vítima expiatória, a<br />

qual é chamada v [ashem], em hebraico, 6 assim como os gregos<br />

chamavam κάθαρμα a um sacrifício sobre o qual é lançada uma maldição.<br />

O apóstolo diz a mesma coisa em 2 Coríntios 5.21: “Aquele<br />

que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós, para que nele<br />

fôssemos feitos justiça <strong>de</strong> Deus.” A preposição περί é aqui tomada<br />

num sentido causal, como se houvesse dito: “Sobre o sacrifício, ou por<br />

causa do peso do pecado posto sobre Cristo, o pecado foi <strong>de</strong>rrubado<br />

<strong>de</strong> seu po<strong>de</strong>r, a fim <strong>de</strong> não mais nos sujeitarmos a ele.” Paulo diz<br />

metaforicamente que foi con<strong>de</strong>nado, como aqueles que per<strong>de</strong>ram sua<br />

causa, visto que Deus não mais reputa como culpados aqueles que<br />

obtiveram absolvição através do sacrifício <strong>de</strong> Cristo. Se dissermos<br />

que o reinado do pecado, no qual fomos oprimidos, foi <strong>de</strong>struído, o<br />

significado será o mesmo. Assim Cristo tomou para si mesmo o que<br />

6 A referência ficaria melhor se feita a tafj, uma oferta pelo pecado, assim chamada porque<br />

afj, pecado, era imputado ao que era oferecida, e era aceita como uma expiação.<br />

Vejam-se Levítico 1.4; 4.3, 4, 15; 16.21. Veja-se também xodo 30.10. A Septuaginta adotou<br />

a mesma maneira, e traduziu oferta pelo pecado em muitos exemplos por ἁμαρτία, pecado;<br />

e Paulo fez o mesmo em 2 Coríntios 5.21; Hebreus 9.28. Que ‘pecado’ <strong>de</strong>ve ter dois<br />

diferentes significados no mesmo versículo ou na mesma cláusula é o que está perfeitamente<br />

consoante ao modo <strong>de</strong> escrever do Apóstolo; ele parece <strong>de</strong>leitar-se nesse gênero<br />

<strong>de</strong> contrastar o significado enquanto usa as mesmas palavras, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do contexto<br />

da explicação. Ele usa a palavra esperança, neste capítulo e em 4.18, da mesma maneira.<br />

E isso não é peculiar a Paulo; é o que observamos em todas as partes da Escritura, tanto<br />

no Novo quanto no Velho Testamento. Um notável exemplo disso, quanto à palavra ‘vida’,<br />

ψυχή, se encontra em Mateus 16.25, 26, sendo no último versículo traduzida impropriamente<br />

para ‘alma’.

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