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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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276 • Comentário <strong>de</strong> <strong>Romanos</strong><br />

anelo corrupto nos mova em direção ao mal, e nem mesmo obtenha<br />

ele o nosso consentimento. Foi precisamente por isso que eu disse<br />

que o pensamento <strong>de</strong> Paulo, aqui, vai além da comum capacida<strong>de</strong><br />

humana <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r. As leis civis irrestritamente punem as intenções<br />

[consilia] e não os eventos. Os filósofos, com gran<strong>de</strong> refinamento,<br />

localizavam tanto os vícios quanto as virtu<strong>de</strong>s na vonta<strong>de</strong> [in animo].<br />

Deus, contudo, neste preceito, penetra o próprio coração <strong>de</strong> nossa<br />

concupiscência, a qual, visto ser mais escondida que a vonta<strong>de</strong>, não<br />

é consi<strong>de</strong>rada como vício. Não só era tolerada pelos filósofos, mas<br />

em nossa época os papistas ferozmente ensinam que nos regenerados<br />

ela não é pecado. 12 Paulo, contudo, diz que encontrara nesta<br />

enfermida<strong>de</strong> secreta a fonte <strong>de</strong> seu pecado. Conclui-se <strong>de</strong>ste fato<br />

que aqueles que se vêem contaminados por ela não têm, <strong>de</strong> forma<br />

alguma, como justificar-se, a não ser que Deus perdoe sua culpa.<br />

Entretanto, é indispensável que façamos distinção entre os <strong>de</strong>sejos<br />

<strong>de</strong>pravados que contam com nosso consentimento e a concupiscência<br />

que tenta e afeta os nossos corações <strong>de</strong> tal sorte que se interpõe<br />

como empecilhos para nos forçar a pecar.<br />

8a. Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, <strong>de</strong>spertou<br />

em mim toda sorte <strong>de</strong> cobiça. Todo mal, pois, proce<strong>de</strong> do<br />

pecado e da corrupção da carne. A lei não passa <strong>de</strong> ocasião do mal.<br />

Aparentemente, o apóstolo está a falar somente do excitamento pelo<br />

qual a lei <strong>de</strong>sperta nossa concupiscência para jorrar imundícia em<br />

gran<strong>de</strong>s borbotões. Entretanto, em minha opinião, ele pretendia<br />

expressar aquela consciência do pecado que a lei comunica, como<br />

se dissesse: “A lei <strong>de</strong>scobriu em mim toda a minha concupiscência<br />

12 Como um exemplo do modo frívolo e pueril <strong>de</strong> raciocínio adotado pelos papistas, po<strong>de</strong>-<br />

-se aduzir o seguinte: ao citar Tiago 1.15: “Depois, havendo a concupiscência concebido,<br />

dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte”, eles arrazoam assim: “A<br />

lascívia não é simplesmente pecado, pois ela o produz; e quando é pecado, não é pecado<br />

mortal, pois ela em seguida produz morte.” Tirando vantagem <strong>de</strong> uma metáfora, eles a<br />

aplicam estrita e literalmente, sem levar em conta o fato <strong>de</strong> que o Apóstolo está apenas<br />

exibindo a origem, o progresso e a terminação ‘do quê?’, sem dúvida do pecado. A semelhança<br />

produz semelhança. Se a lascívia não era pecaminosa, não po<strong>de</strong>ria gerar o que é<br />

pecaminoso. Tal infantilida<strong>de</strong> e profano raciocínio é um ultraje tanto ao sendo comum<br />

quanto à religião.

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