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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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284 • Comentário <strong>de</strong> <strong>Romanos</strong><br />

retêm suas características naturais, visto que são todos corruptos,<br />

cuja reputação, e cujos <strong>de</strong>sejos, nada mais são senão imundícies<br />

grosseiras e terrenas. O espírito, em contrapartida, é chamado renovação<br />

<strong>de</strong> nossa natureza corrupta, quando Deus nos conforma com<br />

sua própria imagem. Paulo adota este estilo <strong>de</strong> linguagem porque a<br />

novida<strong>de</strong> que é operada em nós é um dom do Espírito Santo.<br />

Por isso, a perfeição da doutrina da lei é, aqui, contrária à<br />

natureza corrupta do homem. Portanto, o significado fica sendo:<br />

“A lei requer uma justiça que é celestial e angélica, na qual não se<br />

vê qualquer mancha e a qual requer nada mais nada menos que<br />

perfeita pureza. Todavia, sou carnal, e nada posso fazer senão lutar<br />

contra ela.” 20 A interpretação <strong>de</strong> Orígenes, ainda que antigamente<br />

aprovada por muitos, nem mesmo é digna <strong>de</strong> refutação. Ele afirma<br />

que a lei é qualificada por Paulo como sendo espiritual, uma vez que<br />

a Escritura não po<strong>de</strong> ser entendida literalmente. O que isto tem a<br />

ver com o presente tema?<br />

Vendido ao pecado. Por meio <strong>de</strong>sta expressão, Paulo mostra<br />

a força que o pecado inerentemente possui. E o homem, inerentemente,<br />

não é menos escravo do pecado do que os escravos a quem<br />

seus senhores compram e tratam consoante seu bel-prazer, como<br />

20 “Ele é ‘carnal’ na exata proporção do grau em que ele fracassa <strong>de</strong> ser perfeito <strong>de</strong> conformida<strong>de</strong><br />

com a lei <strong>de</strong> Deus.” – Scott.<br />

Tem sido costumeiro entre certa classe <strong>de</strong> doutores, tais como Hammond e Bull, afirmar<br />

que todos os Pais antes <strong>de</strong> Agostinho consi<strong>de</strong>ravam Paulo aqui não a falar <strong>de</strong> si mesmo.<br />

Mas isso é claramente contraditório à luz do que Agostinho <strong>de</strong>clara <strong>de</strong> si mesmo<br />

em várias partes <strong>de</strong> seus escritos. Em seu Retratações, B. i. capítulo 23, ele se refere a<br />

alguns autores <strong>de</strong> discursos sacros (quibusdam divinorum tractatoribus eloquiorum) por<br />

cuja autorida<strong>de</strong> ele foi induzido a mudar sua opinião e a consi<strong>de</strong>rar Paulo aqui como a<br />

falar <strong>de</strong>le mesmo. Ele faz alusão outra vez, em sua obra contra Juliano, um advogado do<br />

pelagianismo, B. 6, capítulo 11, a essa mesma mudança em seu ponto <strong>de</strong> vista, e a atribui<br />

à leitura das obras daqueles que eram melhores e mais inteligentes do que ele (melioribus<br />

et intelligentioribus cessi). Então faz referências a eles nominalmente, e diz: “Daí foi<br />

que eu vim a enten<strong>de</strong>r essas coisas, como Hilário, Gregório, Ambrósio e outros santos<br />

e renomados doutores da Igreja, sim, por eles entendi que o Apóstolo pessoalmente lutou<br />

exaustivamente contra os <strong>de</strong>sejos carnais, os quais ele não queria ter e no entanto<br />

tinha, e que <strong>de</strong>u testemunho quanto a esse conflito nestas palavras” (referindo-se a este<br />

mesmo texto): Hinc factum est, ut sic ista intelligerem, quemadmodum intellexit Hilarius,<br />

Gregorius, Ambrosius, et cæteri Ecclesiæ sancti notique doctores, qui et ipsum Apostolum<br />

adversus carnales concupiscentias, quas habere nolebat, et tamen habebat, strenue conflixisse,<br />

cun<strong>de</strong>mque conflictum suum illis suis verbis contestatum fuisse senserunt.

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