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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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338 • Comentário <strong>de</strong> <strong>Romanos</strong><br />

Porque não sabemos orar como convém. Paulo havia falado<br />

acerca do testemunho do Espírito, pelo qual ficamos sabendo<br />

que Deus é nosso Pai e no qual ousamos confiadamente invocá-lo<br />

como nosso Pai. O apóstolo agora reitera a segunda parte relativa<br />

à invocação, e diz que somos ensinados pelo mesmo Espírito como<br />

<strong>de</strong>vemos orar a Deus e o que <strong>de</strong>vemos pedir-lhe em nossas orações.<br />

Paulo, apropriadamente, conectou orações com os anseios dos fiéis,<br />

visto que Deus não os aflige com misérias a fim <strong>de</strong> recompensá-los<br />

interiormente com tristezas secretas, mas para que sejam aliviados<br />

por meio da oração e assim exercitem sua fé.<br />

Embora esteja eu consciente da existência <strong>de</strong> várias explicações<br />

<strong>de</strong>sta passagem, 28 Paulo, creio eu, simplesmente quis dizer que<br />

somos como que cegos quando oramos a Deus, visto que, embora<br />

aliviados <strong>de</strong> nossos males, nossas mentes se acham tão perturbadas<br />

e confusas em fazer a escolha certa do que nos convém, ou do que<br />

necessitamos. Se alguém alega que temos uma regra prescrita na<br />

Palavra <strong>de</strong> Deus para nós, respondo que nossos afetos permanecem<br />

sobrecarregados com trevas a <strong>de</strong>speito disto, até que o Espírito os<br />

guie com sua luz.<br />

Mas o mesmo Espírito interce<strong>de</strong> 29 por nós com gemidos inexprimíveis.<br />

Ainda quando não pareça que nossas orações tenham<br />

sido realmente ouvidas por Deus, Paulo conclui que a presença da<br />

graça celestial já se manifesta no próprio zelo pela oração, visto<br />

que ninguém, <strong>de</strong> seu próprio arbítrio, conceberia que suas orações<br />

28 As opiniões <strong>de</strong> Crisóstomo, Ambrósio e Orígenes são dadas por Pareus; e elas são todas<br />

diferentes, e não vêm muito a calhar. O ponto <strong>de</strong> vista que Agostinho <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> é substancialmente<br />

o que é <strong>de</strong>clarado aqui. Ele dá um sentido causativo ao verbo na próxima<br />

cláusula: “Interpellare nos facit – ele nos faz perguntar.”<br />

29 “Intercedit – ὑπερεντυγχάνει – interce<strong>de</strong> abundantemente”, pois ὑπερ, prefixado aos verbos,<br />

comumente é traduzido. Esta é ação própria <strong>de</strong> um advogado, um título dado ao<br />

Espírito por nosso Salvador, ἄλλον παράκλητον – “outro advogado”, não ‘consolador’,<br />

como em nossa versão; e Cristo é chamado pelo mesmo título em 1 João 2.1, e a mesma<br />

obra, ‘interce<strong>de</strong>ndo’, lhe é atribuída [Hb 7.25]. Mas apren<strong>de</strong>mos em João 14.16 que o<br />

Espírito é um advogado junto a nós – “para que ele habite convosco para sempre”; e em<br />

1 João 2.1, que Cristo é um advogado no céu – “junto ao Pai”. O mesmo título e a mesma<br />

obra são atribuídas a ambos. Alguns, como Doddridge, para evitar a fusão dos ofícios dos<br />

dois, traduziram o verbo aqui por um termo diferente, porém não sabiamente.

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