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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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Capítulo 6 • 259<br />

não menos solícitos e prontos a por<strong>de</strong>s em prática os mandamentos <strong>de</strong><br />

Deus; e vossa ativida<strong>de</strong> na prática do bem não seja menos agora do que<br />

quando vivíeis na prática do pecado. Paulo não observa, como o faz<br />

em 1 Tessalonicenses 4.7, a mesma or<strong>de</strong>m nas antíteses ao contrastar<br />

impureza com santida<strong>de</strong>; todavia, seu significado é plenamente óbvio.<br />

Em primeiro lugar, ele sustenta que há duas espécies <strong>de</strong> pecado,<br />

a saber: impureza e iniqüida<strong>de</strong>. Destas, a primeira é contrastada<br />

com castida<strong>de</strong> e santida<strong>de</strong>, enquanto que a segunda consiste nas<br />

injúrias infligidas contra nosso próximo. Também repete a palavra<br />

iniqüida<strong>de</strong> duas vezes, num sentido distinto. Na primeira instância,<br />

significa pilhagem, frau<strong>de</strong>, perjúrio e erros <strong>de</strong> todo gênero; na segunda,<br />

[significa] a universal corrupção da vida. É como se dissesse:<br />

“Ten<strong>de</strong>s prostituído vossos membros ao cometer<strong>de</strong>s obras <strong>de</strong> impieda<strong>de</strong>,<br />

fazendo o reino da iniqüida<strong>de</strong> prevalecer em vós.” 17 Pelo termo<br />

justiça entendo ser a lei e a norma do justo viver, cujo propósito é a<br />

santificação, <strong>de</strong> modo que os crentes se consagrem com pureza [<strong>de</strong><br />

vida] para o serviço <strong>de</strong> Deus.<br />

17 As diferentes frases <strong>de</strong>ste versículo têm sido um nó górdio para todos os comentaristas.<br />

Provavelmente o apóstolo não tencionava manter um curso regular <strong>de</strong> antíteses, o tema<br />

não admitindo isso; porque o progresso do mal e o progresso <strong>de</strong> seu remédio po<strong>de</strong>m<br />

ser diferentes, e parece ser assim no presente caso. O pecado é inato e interior, e seu<br />

caráter, como aqui representado, é malda<strong>de</strong> e iniqüida<strong>de</strong>, e ele se prorrompe em atos <strong>de</strong><br />

iniqüida<strong>de</strong>. Ele não repete o outro caráter, a malda<strong>de</strong>; mas quando chega ao contraste,<br />

faz menção da santida<strong>de</strong>, e não adiciona qual é a antítese da iniqüida<strong>de</strong>. Este é um caso<br />

notável <strong>de</strong> estilo elíptico do apóstolo. Não é negligência ou <strong>de</strong>scuido, mas sem dúvida<br />

uma omissão inten cional; sendo o caráter <strong>de</strong> seu modo <strong>de</strong> escrever, o que ele tinha em<br />

comum com os antigos profetas.<br />

Então vem a palavra ‘justiça’, a qual estou disposto a crer ser aquilo que todos têm expresso<br />

como sendo a justiça da fé; esta não é inata, não interior, mas proce<strong>de</strong> <strong>de</strong> fora e é<br />

apreendida pela fé, pela qual os pecados são perdoados e o favor <strong>de</strong> Deus é obtido; e os<br />

que se tornam servos <strong>de</strong>sta cultivam a santida<strong>de</strong>, tanto interior quanto exterior; <strong>de</strong>vem<br />

apresentar todos seus membros, isto é, todas suas faculda<strong>de</strong>s, ao serviço <strong>de</strong>ste Senhor,<br />

para que se tornem santos na forma <strong>de</strong> sua conversação.<br />

Mas se esse tipo <strong>de</strong> justiça não for aprovado, po<strong>de</strong>mos ainda explicar a aparente irregularida<strong>de</strong><br />

na construção da passagem. É o caso <strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m inversa, muitos exemplos<br />

que se encontram mesmo nesta Epístola. Ele começa com ‘impureza’ e termina com ‘santida<strong>de</strong>’,<br />

e então as palavras intermediárias <strong>de</strong> contraste correspon<strong>de</strong>m: ‘iniqüida<strong>de</strong>’ e<br />

‘justiça’. Aqui há também uma inversão no significado: ‘impureza’ é o princípio, e ‘santida<strong>de</strong>’<br />

é a ação; enquanto que ‘iniqüida<strong>de</strong>’ é a ação, e ‘justiça’ é o princípio. Se este ponto<br />

<strong>de</strong> vista está certo, temos aqui um caso singular <strong>de</strong> paralelismo invertido, ambos no<br />

tocante às palavras e ao significado.

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