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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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342 • Comentário <strong>de</strong> <strong>Romanos</strong><br />

antecipações da graça divina. Paulo, pois, nos instrui que aqueles<br />

sobre quem fez referência como adoradores <strong>de</strong> Deus foram eleitos<br />

antecipadamente por ele. É verda<strong>de</strong> que o apóstolo estabelece certa<br />

or<strong>de</strong>m, para que saibamos que o fato <strong>de</strong> tudo acontecer aos santos,<br />

visando a sua salvação, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da graciosa adoção divina como<br />

sua causa primeira. Deveras, o apóstolo mostra que os crentes não<br />

amam a Deus antes <strong>de</strong> serem chamados por ele, como nos lembra<br />

alhures que os gálatas eram conhecidos <strong>de</strong> Deus antes que o pu<strong>de</strong>ssem<br />

conhecer [Gl 4.9]. É <strong>de</strong> fato verda<strong>de</strong>, como diz o apóstolo, que as<br />

aflições têm seu valor no âmbito da salvação só no que diz respeito<br />

àqueles que <strong>de</strong> fato amam a Deus; mas a afirmação <strong>de</strong> João não é<br />

menos verda<strong>de</strong>ira, ou seja: que só começamos a amar a Deus quando<br />

[<strong>de</strong>scobrimos que] ele graciosamente nos amou primeiro [1Jo 4.10].<br />

Além do mais, o chamamento <strong>de</strong> que o apóstolo fala aqui tem<br />

uma referência muito mais ampla. Ele não <strong>de</strong>ve limitar-se ao âmbito<br />

da eleição, a qual mencionará logo a seguir, mas é simplesmente o<br />

oposto do curso seguido pelo homem. “Os crentes”, diz Paulo, “não<br />

granjeiam pieda<strong>de</strong> por sua própria engenhosida<strong>de</strong>, senão que, ao<br />

contrário, são guiados pela mão divina, visto que Deus os elegeu para<br />

que fossem sua proprieda<strong>de</strong> particular.” O termo propósito exclui<br />

terminantemente tudo quanto os homens acreditam po<strong>de</strong>r permutar,<br />

como se Paulo quisesse negar que as causas <strong>de</strong> nossa eleição<br />

<strong>de</strong>vessem ser buscadas em algum outro lugar senão exclusivamente<br />

no beneplácito secreto <strong>de</strong> Deus. Isto aparece mais nitidamente em<br />

Efésios 1 e 2 Timóteo 1, on<strong>de</strong> o contraste entre este propósito e a<br />

justiça humana é também explicitamente estabelecido. 31 Contudo,<br />

31 Hammond tem uma longa nota sobre a expressão κατὰ πρόθεσιν, e cita Cirilo <strong>de</strong> Jerusalém,<br />

Clemente <strong>de</strong> Alexandria e Teofilato que traduzem as palavras “segundo seu propósito”,<br />

isto é, daqueles que amam a Deus – construção essa por si só estranha e totalmente<br />

alheia a todo o teor da passagem, bem como ao uso da palavra em muitos outros exemplos.<br />

Paulo nunca usou a palavra, a não ser em um único caso [2Tm 3.10], porém com<br />

referência ao propósito ou <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> Deus [vejam-se 9.11; Ef 1.11; 3.11; 2Tm 1.9]. Parece<br />

que Crisóstomo, Orígenes, Teodoreto e outros Pais fizeram a mesma explicação singularmente<br />

estranha. Mas, em oposição aos mesmos, Poole menciona Ambrósio, Agostinho e<br />

ainda Jerônimo, os quais consi<strong>de</strong>ram “o propósito” aqui como sendo o <strong>de</strong> Deus; no que<br />

concorda a opinião <strong>de</strong> quase todos os doutores mo<strong>de</strong>rnos.

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