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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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Capítulo 1 • 81<br />

pelo Diabo. Paulo, pois, adota o termo entregar em concordância com o<br />

constante uso da Escritura. Aqueles que acreditam que somos levados<br />

a pecar tão-somente pela permissão divina provocam forte violência<br />

contra esta palavra, pois, como Satanás é o ministro da ira divina, bem<br />

como seu ‘executor’, ele também se acha fortemente armado contra<br />

nós, não simplesmente na aparência, mas segundo as or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> seu<br />

Juiz. Deus, contudo, não <strong>de</strong>ve ser tido na conta <strong>de</strong> cruel, nem somos<br />

nós inocentes, visto que o apóstolo claramente mostra que somos<br />

entregues a seu po<strong>de</strong>r somente quando merecemos tal punição. Uma<br />

única exceção <strong>de</strong>ve-se fazer, ou, seja: que a causa do pecado, suas raízes,<br />

sempre resi<strong>de</strong> no próprio pecador; não têm sua origem em Deus,<br />

pois resulta sempre verda<strong>de</strong>iro que “Tua ruína, ó Israel, vem <strong>de</strong> ti, e só<br />

<strong>de</strong> mim teu socorro” [Os 13.9]. 41<br />

Ao conectar os <strong>de</strong>sejos perversos do coração humana com a<br />

impureza, o apóstolo indiretamente tem em mente o fruto que nosso<br />

coração produzirá ao ser entregue a si mesmo. A expressão entre<br />

eles mesmos é enfática, pois <strong>de</strong> modo significativo expressa quão<br />

41 Sobre este tema Agostinho, citado por Poole, usa uma linguagem mais forte do que a que<br />

encontramos aqui: Tradidit non solum per patientiam et permissionem, sed per potentiam<br />

et quasi actionem; non faciendo voluntates malas, sed eis jam malis utendo ut voluerit; multa<br />

et intra ipsos et extra ipsos operando, à quibus illi occasionem capitunt graviùs peccandi;<br />

largiendo illis admonitiones, flagella, beneficia, &c., quibus quoque eos scivit Deus ad suam<br />

perniciem abusuros – “Ele os entregou, não só por tolerância e permissão, mas por po<strong>de</strong>r<br />

e, por assim dizer, por uma operação eficiente; não por fazer os maus sua própria vonta<strong>de</strong>,<br />

mas por usá-los, sendo já maus, como bem lhe agradou; operando muitas coisas tanto<br />

em seu interior quanto fora <strong>de</strong>les, do quê aproveitam a ocasião para pecar ainda mais<br />

gravemente; ministrando-lhes advertências, açoites e benefícios etc., dos quais Deus sabia<br />

que abusariam para sua própria <strong>de</strong>struição.” Este é um ponto <strong>de</strong> vista terrível do<br />

procedimento <strong>de</strong> Deus para com aqueles que voluntariamente resistem a verda<strong>de</strong>, porém<br />

sem dúvida verda<strong>de</strong>iro. Que todos quantos têm a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer a verda<strong>de</strong><br />

tremam ante o pensamento <strong>de</strong> abrandar tal fato.<br />

A preposição ἐν antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos ou luxúrias é usada segundo o costume hebraico, no<br />

sentido <strong>de</strong> a ou para; pois b, beth, significa em e para e também por ou através <strong>de</strong>; e tal é<br />

a importância <strong>de</strong> ἐν como amiú<strong>de</strong> usada pelo Apóstolo. Ela é assim usada no versículo<br />

prece<strong>de</strong>nte: ἐν ὁμοιώματι, à semelhança etc. Então o versículo seria, como no sentido<br />

dado por Calvino:<br />

“Deus também por isso os entregou às luxúrias <strong>de</strong> seu próprio coração para praticarem<br />

impurezas, a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>sonrarem seus corpos entre si.”<br />

O papel <strong>de</strong> εἰς ἀκαθαρσίαν, para a impureza, é sem dúvida praticar impureza; o Apóstolo<br />

amiú<strong>de</strong> usa este tipo <strong>de</strong> expressão. Stuart luta aqui <strong>de</strong>snecessariamente para mostrar que<br />

Deus os entregou, estando em suas luxúrias etc. tomando a cláusula como uma <strong>de</strong>scrição<br />

daqueles que foram entregues; mas o sentido mais claro é aquele dado por Calvino.

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