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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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112 • Comentário <strong>de</strong> <strong>Romanos</strong><br />

voltará contra nós, neste presente tempo. De fato, o mesmo po<strong>de</strong> aplicar-se<br />

a muitos que se gabam <strong>de</strong> algum conhecimento extraordinário<br />

do evangelho, e todavia se entregam a toda sorte <strong>de</strong> <strong>de</strong>vassidão, como<br />

se o evangelho não fosse a norma <strong>de</strong> vida. Portanto, sejamos precavidos<br />

em relação a uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>scuido para com o Senhor, tendo<br />

em mente o gênero <strong>de</strong> juízo que ameaça esses charlatães palradores<br />

(logodædalis – artífices <strong>de</strong> palavras), os quais ostentam a Palavra <strong>de</strong><br />

Deus esgrimindo-a com sua língua bigúmea.<br />

22. Tu, que <strong>de</strong>testas os ídolos, roubas-lhes os templos? Paulo, habilidosamente,<br />

compara sacrilégio e idolatria como sendo virtualmente<br />

a mesma coisa. Sacrilégio é simplesmente a profanação da majesta<strong>de</strong><br />

divina, um pecado não ignorado pelos poetas pagãos. Por esta razão,<br />

Ovídio [Metamor. III] acusa Licurgo <strong>de</strong> sacrilégio, por <strong>de</strong>sprezar os ritos<br />

<strong>de</strong> Baco; e, em seu Faustos, ele se refere às mãos que violaram a majesta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Venus como sendo um ato sacrílego. Entretanto, visto que os gentios<br />

atribuíam aos ídolos a majesta<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>uses, eles consi<strong>de</strong>ravam um<br />

ato sacrílego somente quando alguém saqueava o que era <strong>de</strong>dicado em<br />

seus templos, nos quais, segundo criam, toda a religião estava centrada.<br />

Assim, no tempo presente, quando a superstição prevalece em <strong>de</strong>trimento<br />

da Palavra <strong>de</strong> Deus, o único gênero <strong>de</strong> sacrilégio que se reconhece é o<br />

furto daquilo que pertence às igrejas, visto que seu único <strong>de</strong>us está nos<br />

ídolos, e sua única religião consiste em fausto e magnificência. 22<br />

22 “Sacrilégio”, aqui mencionado, é por alguns tomado literalmente no sentido <strong>de</strong> roubar a<br />

Deus os sacrifícios que ele requeria, bem como a profanação dos ritos sacros. Diz Turrettin:<br />

“Muitos exemplos dos quais estão registrados pelos profetas, e também por Josefo, antes<br />

e durante a última guerra.” Alguns, porém, esten<strong>de</strong>m seu significado a atos <strong>de</strong> hipocrisia e<br />

impieda<strong>de</strong>, pelos quais a honra <strong>de</strong> Deus era profanada e a glória a ele <strong>de</strong>vida era negada. O<br />

sacrilégio máximo, sem dúvida, é privar a Deus daquele sincero serviço e obediência que<br />

justamente requer. Diz Pareus: “Fazer com que o nome e a honra <strong>de</strong> Deus sejam <strong>de</strong> várias<br />

formas blasfemados por sua ímpia hipocrisia; e daí o apóstolo dizer com razão que eles eram<br />

culpados <strong>de</strong> sacrilégio.” Ele então acrescenta: “Devemos notar que a idolatria não é oposta<br />

ao sacrilégio, mas mencionada como algo intimamente aliado a ela. Aliás, toda idolatria é<br />

sacrílega. Como, pois, po<strong>de</strong>m os monges, os sacerdotes e os jesuítas purificar-se da culpa<br />

<strong>de</strong> sacrilégio? Pois não só amam a idolatria, sendo neste aspecto muitíssimo piores que os<br />

hipócritas aqui referidos, mas também avidamente buscam, como estes, as oferendas sacras,<br />

e sob pretexto <strong>de</strong> santida<strong>de</strong> <strong>de</strong>voram as casas das viúvas, pilham os cofres dos reis e, o que é<br />

ainda mais hediondo, sacrilegamente roubam a Deus <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>vido culto e honra, e os transferem<br />

para os santos.” Todavia o mundo é tão cego que não vê o real caráter <strong>de</strong> tais homens!

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