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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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Capítulo 3 • 141<br />

Enquanto que alguns as incluem à observância <strong>de</strong> toda a lei, outros<br />

as restringem exclusivamente às cerimônias. A inclusão do termo<br />

lei induziu Crisóstomo, Orígenes e Jerônimo a aceitarem a última<br />

opinião, 20 pois acreditavam que esta inclusão continha uma conotação<br />

peculiar, ou, seja: para impedir que a passagem fosse entendida<br />

como a referir-se a todas as obras. Esta dificulda<strong>de</strong>, contudo, é <strong>de</strong><br />

muito fácil solução. As obras são justas diante <strong>de</strong> Deus somente na<br />

medida em que buscamos, por meio <strong>de</strong>las, prestar culto e obediência<br />

a ele. Portanto, com o fim <strong>de</strong> remover mais explicitamente <strong>de</strong> todas<br />

as obras o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> justificação, Paulo usou o nome daquelas obras<br />

que têm maior virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> justificar, se é que tal existe. Pois a lei tem<br />

as promessas, sem as quais não haveria valor algum em nossas obras<br />

aos olhos <strong>de</strong> Deus. Vemos, pois, as razões por que Paulo faz menção<br />

<strong>de</strong> as obras da lei, pois é à luz da lei que nossas obras são avaliados<br />

ou julgadas. Até os escolásticos estavam plenamente conscientes<br />

<strong>de</strong>ste fato, pois eles possuíam um surrado chavão sobre a idéia <strong>de</strong><br />

que as obras são meritórias, não por algum valor intrínseco nelas,<br />

mas em virtu<strong>de</strong> do pacto divino. Todavia se vêem equivocados, já<br />

que não percebem que nossas obras são sempre poluídas por vícios<br />

que as privam <strong>de</strong> algum mérito. Entretanto, o princípio permanece<br />

verda<strong>de</strong>iro, ou, seja: que a recompensa das obras <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da gracio-<br />

20 O original é “ut in priorem opinionem conce<strong>de</strong>rent”. O contexto, porém, mostra claramente<br />

que ‘priorem’ é um erro tipográfico para ‘posteriorem’. Além dos autores mencionados<br />

aqui se po<strong>de</strong>riam acrescentar Ambrósio, Teodoreto, Pelágio, Erasmo e Grotius. E no entanto,<br />

não obstante todas essas autorida<strong>de</strong>s, a opinião evocada é totalmente inconsistente<br />

com o raciocínio do apóstolo aqui e por toda a Epístola. Aliás, ela tem sido formulada<br />

como insustentável por autores mo<strong>de</strong>rnos da mesma escola, tais como Locke, Whitby e<br />

Macknight.<br />

Para reprovar essa noção é suficiente notar os pecados que o apóstolo evocou; não são<br />

aqueles contra a lei cerimonial, mas contra a lei moral, e é por causa da lei moral transgredida<br />

que o homem não po<strong>de</strong> ser justificado.<br />

“Se houvesse alguma lei que o homem tenha perfeitamente guardado, ele po<strong>de</strong>ria sem dúvida<br />

ser justificado por ela; e seguramente nenhum homem po<strong>de</strong> ser justificado por uma<br />

lei que o con<strong>de</strong>na por quebrá-la. Pois não existe lei <strong>de</strong> Deus que alguém tenha guardado;<br />

portanto, não existe lei pelos feitos da qual uma pessoa possa ser justificada. O gentio<br />

quebranta a lei <strong>de</strong> sua razão e consciência; o ju<strong>de</strong>u quebranta a lei moral; e mesmo a<br />

tentativa <strong>de</strong> justificar-se pela observância da lei cerimonial contradiz a própria natureza<br />

e o intento <strong>de</strong>la.” – Scott.

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