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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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176 • Comentário <strong>de</strong> <strong>Romanos</strong><br />

Visto que Paulo menciona somente circuncisão e incircuncisão,<br />

muitos intérpretes insensatamente concluem que a questão em pauta<br />

consiste na obtenção da justiça por meio das cerimônias da lei. Mas<br />

é preciso que consi<strong>de</strong>remos a classe <strong>de</strong> homens a quem Paulo está<br />

argüindo, pois sabemos que, enquanto os hipócritas geralmente se<br />

vangloriam das obras meritórias, também disfarçam sua conduta<br />

em seus aspectos externos. Os ju<strong>de</strong>us também tinham uma razão<br />

particularmente sua para alienar-se em <strong>de</strong>masia daquela verda<strong>de</strong>ira<br />

e genuína justiça mediante um abuso tão grosseiro da lei. Paulo disse<br />

que somente aqueles a quem Deus reconcilia com ele mesmo por<br />

meio do perdão gratuito é que são abençoados. Segue-se disso que<br />

todos aqueles cujas obras vêm a juízo são amaldiçoados. O princípio<br />

a ser aqui estabelecido é o seguinte: os homens são justificados pela<br />

misericórdia divina, e não por sua própria dignida<strong>de</strong>. Mas até mesmo<br />

isso ainda não é suficiente, a menos que a remissão dos pecados anteceda<br />

a todas as obras. Destas, a primeira era a circuncisão, a qual<br />

iniciava o povo ju<strong>de</strong>u na obediência a Deus. O apóstolo, portanto,<br />

prossegue <strong>de</strong>monstrando isso também.<br />

Devemos lembrar, igualmente, que a circuncisão é aqui consi<strong>de</strong>rada<br />

como a ‘iniciação’ [dos ju<strong>de</strong>us] à obra da justiça da lei. Os<br />

ju<strong>de</strong>us não se orgulhavam <strong>de</strong>la como símbolo da graça <strong>de</strong> Deus, e,<br />

sim, em sua observância meritória da lei e em consi<strong>de</strong>rar-se como<br />

sendo superiores aos <strong>de</strong>mais com base na possessão <strong>de</strong> superior<br />

excelência diante <strong>de</strong> Deus. Agora percebemos que a disputa não<br />

consistia em um único rito, senão no fato <strong>de</strong> que toda a obra da lei<br />

se acha inclusa nesta classe, ou, seja: toda obra que <strong>de</strong>ve receber<br />

recompensa. A circuncisão é particularmente mencionada por ser<br />

a base da justiça [proce<strong>de</strong>nte] da lei.<br />

Paulo argumenta partindo do oposto, a saber: se a justiça<br />

<strong>de</strong> Abraão consiste na remissão dos pecados (e ele pressupõe<br />

isso), e se ele alcançou isso antes da circuncisão, então segue-<br />

-se que a remissão dos pecados não é comunicada com base em<br />

méritos antecipados. Vemos, pois, que o argumento é extraído da

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