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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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Capítulo 9 • 371<br />

Temos aqui uma passagem mui notável. Paulo distingue as duas<br />

naturezas em Cristo, mas <strong>de</strong> forma que as mantém, ao mesmo tempo,<br />

unidas em uma mesma pessoa. Ao dizer que Cristo <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>u dos<br />

ju<strong>de</strong>us, o apóstolo <strong>de</strong>clara sua autêntica humanida<strong>de</strong>. Ao adicionar<br />

as palavras, segundo a carne, <strong>de</strong>nota que Cristo possuía algo superior<br />

à carne. Tudo indica que o apóstolo estivesse aqui fazendo uma<br />

nítida distinção entre humanida<strong>de</strong> e divinda<strong>de</strong>; porém, finalmente ele<br />

une ambas quando diz que Cristo mesmo, que nasceu dos ju<strong>de</strong>us<br />

segundo a carne, é Deus bendito para sempre. 7<br />

É mister observar mais que esta atribuição <strong>de</strong> louvor pertence<br />

unicamente ao único e eterno Deus. Em outra passagem [1Tm 1.17],<br />

Paulo afirma que há um só Deus, a quem se <strong>de</strong>vem honra e glória. Separar<br />

esta sentença do resto do contexto, com o propósito <strong>de</strong> privar<br />

a Cristo <strong>de</strong>ste claro testemunho <strong>de</strong> sua divinda<strong>de</strong>, é uma audaciosa<br />

tentativa <strong>de</strong> criar-se trevas on<strong>de</strong> só existe luz meridiana. As palavras<br />

são plenamente claras: “Cristo, que proce<strong>de</strong> dos ju<strong>de</strong>us segundo a<br />

carne, é Deus bendito para sempre.” Não tenho dúvida alguma <strong>de</strong><br />

que Paulo, que experimentou dificulda<strong>de</strong> no tratamento da pedra<br />

<strong>de</strong> tropeço que existia contra ele, <strong>de</strong>liberadamente fez emergir seus<br />

pensamentos e os alçou rumo à glória <strong>de</strong> Cristo, não tanto por ele<br />

mesmo, mas com o propósito <strong>de</strong> reanimar a outrem por meio <strong>de</strong> seu<br />

exemplo, para que pu<strong>de</strong>ssem também fazer o mesmo.<br />

7 Stuart tem, <strong>de</strong> uma maneira muito convincente, vindicado o verda<strong>de</strong>iro e óbvio significado<br />

<strong>de</strong>sta frase. Não existe redação <strong>de</strong> alguma autorida<strong>de</strong>, nem <strong>de</strong> alguma versão antiga,<br />

que afete a genuinida<strong>de</strong> do texto aceito; e é notável a engenhosida<strong>de</strong> exercida por vários<br />

críticos <strong>de</strong> se evadirem da clara construção da passagem – memorável exemplo do po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong>gradante <strong>de</strong> noções preconceituosas. É bastante singular também que alguns que confessam<br />

pelo menos a doutrina da divinda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cristo, tais como Erasmo, Whitby e Locke,<br />

tenham tentado fazer mudanças no texto, e aqueles que, em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> conjeturas, por<br />

quem o significado óbvio é totalmente alterado.<br />

É bem claramente <strong>de</strong>monstrado por Stuart que a própria posição das palavras, e sua<br />

conexão com o contexto, não admitirá nenhuma outra construção além daquela contida<br />

em nossa versão.<br />

É bem notório que em hebraico a palavra ‘bem-aventurado’ ou ‘bendito’ é sempre posta<br />

antes <strong>de</strong> ‘Deus’ ou Jehovah, quando ela é uma atribuição <strong>de</strong> louvor; e parece que a Septuaginta<br />

tem mais <strong>de</strong> trinta exemplos seguidos na mesma or<strong>de</strong>m, e <strong>de</strong> fato em todo exemplo<br />

com a exceção <strong>de</strong> um [Sl 67.19], e que evi<strong>de</strong>ntemente é um erro tipográfico. O mesmo se<br />

dá com todos os exemplos no Novo Testamento. De modo que, se a frase aqui era uma<br />

doxologia, teria sido escrito εὐλογητὸς ὁ θεός.

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