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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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272 • Comentário <strong>de</strong> <strong>Romanos</strong><br />

que significa ser dotado somente com os dons naturais, sem a graça<br />

particular com que Deus favorece seu povo eleito. Se este estado<br />

<strong>de</strong> vida é totalmente pecaminoso, é evi<strong>de</strong>nte que nenhuma parte <strong>de</strong><br />

nossa alma é inerentemente pura, e que o único po<strong>de</strong>r que nosso<br />

livre-arbítrio possui é o <strong>de</strong> exte riorizar suas vis paixões como dardos<br />

lançados em todas as faculda<strong>de</strong>s da alma. 6<br />

As paixões pecaminosas 7 postas em realce pela lei. Isto é, a lei<br />

excitou vis paixões em nós, as quais produziram seus efeitos em todo<br />

o nosso ser. Na ausência do Espírito, nosso Mestre íntimo [interior<br />

Magister], a obra da lei consiste em inflamar ainda mais os nossos<br />

corações, <strong>de</strong> tal forma que nossos <strong>de</strong>sejos libidinosos irrompem<br />

em borbotões. Deve-se notar que Paulo, aqui, compara a lei com a<br />

natureza corrupta do homem, cuja perversida<strong>de</strong> e concupiscência<br />

irrompem com gran<strong>de</strong> fúria, por mais que seja ele <strong>de</strong>tido pelos freios<br />

da justiça. Ele ainda adiciona que, enquanto nossas paixões carnais<br />

se agitam sob a lei, outra coisa não produzem senão frutos <strong>de</strong> morte.<br />

Paulo assim prova que a lei, por sua própria natureza, era <strong>de</strong>strutiva.<br />

Segue-se que aqueles que, com ímpeto, preferem a escravidão que<br />

resulta em morte são completamente loucos.<br />

6. Agora, porém, <strong>de</strong>svencilhados da lei. Ele dá seguimento<br />

a seu argumento a partir <strong>de</strong> opostos. Se a coibição da lei surtiu<br />

tão pouco efeito em subjugar a carne que nos <strong>de</strong>spertava antes<br />

a pecar, então <strong>de</strong>vemos <strong>de</strong>svencilhar-nos da lei para que <strong>de</strong>ixemos<br />

<strong>de</strong> pecar. Se somos libertados da servidão da lei a fim <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>rmos servir a Deus [livremente], então aqueles que <strong>de</strong>rivam<br />

6 Estar “na carne” tem dois significados: não ser regenerado e viver em nosso estado natural<br />

corrupto, como diz Calvino [8.8]; e estar sujeito a ritos e cerimônias externos, como o<br />

eram os ju<strong>de</strong>us [Gl 3.3; Fp 3.4]. Seu significado aqui, segundo Beza e Pareus, é o primeiro;<br />

segundo Grotius e Hammond, o segundo; e segundo Turrettin e Hodge, ambos estão inclusos,<br />

como o contexto, no ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong>les, evi<strong>de</strong>ntemente mostra.<br />

7 “Affectus peccatorum – afeições <strong>de</strong> pecados”; τα παθήματα etc. – “cupiditates – <strong>de</strong>sejos”,<br />

ou luxúrias, Grotius. A palavra é comumente tomada passivamente, como significando<br />

aflições, sofrimentos [8.18; 2Co 1.5; Cl 1.24]; aqui, porém, e em Gálatas 5.24, evi<strong>de</strong>ntemente<br />

significa excitamentos, comoções, emoções, concupiscências, luxúrias. “Paixão”, em<br />

nosso idioma, admite dois significados similares: sofrimento e um sentimento excitado,<br />

ou uma comoção íntima.

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