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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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Capítulo 4 • 171<br />

observar seus preceitos, por eles viverá.” Visto que a lei promete<br />

uma recompensa para as obras, Paulo conclui <strong>de</strong>ste fato que a justiça<br />

[proce<strong>de</strong>nte] da fé, que é gratuita, não se harmoniza com a justiça<br />

[proce<strong>de</strong>nte] das obras. Outro seria o caso se a fé justificasse com<br />

base nas obras. É preciso observar atentamente estas comparações,<br />

as quais removem inteiramente todo e qualquer mérito.<br />

5. Mas crê naquele que justifica o ímpio. Eis aqui a mais<br />

excelente perífrase. Nela Paulo expressa a substância e natureza<br />

tanto da fé quanto da justiça. Ele claramente mostra que a fé nos<br />

traz a justiça, não porque seja a mesma uma virtu<strong>de</strong> meritória,<br />

mas porque ela obtém para nós a graça <strong>de</strong> Deus. 6 Paulo não só<br />

afirma que Deus é o Doador da justiça, mas também nos acusa<br />

<strong>de</strong> injustiça com o fim <strong>de</strong> nos mostrar que a liberalida<strong>de</strong> divina<br />

po<strong>de</strong> auxiliar-nos em nossas necessida<strong>de</strong>s. Em suma, somente<br />

aqueles que têm consciência <strong>de</strong> que, por natureza, são ímpios é<br />

que alcançarão a justiça [proce<strong>de</strong>nte] da fé. Esta perífrase <strong>de</strong>ve<br />

ser consi<strong>de</strong>rada à luz do tema da passagem, ou, seja: que a fé nos<br />

adorna com a justiça <strong>de</strong> outra pessoa, a qual a recebe <strong>de</strong> Deus.<br />

Aqui, novamente, diz-se que Deus nos justifica quando ele gratuitamente<br />

perdoa os pecadores e agracia com seu amor àqueles<br />

com quem po<strong>de</strong>ria, com justa razão, estar irado, ou, seja, quando<br />

sua misericórdia abole nossa injustiça.<br />

6. E é assim que também Davi pronuncia<br />

bênção sobre o homem a quem<br />

Deus atribui justiça, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

<strong>de</strong> obras,<br />

6. Quemadmodum etiam David finit<br />

beatudinem hominis, cui Deus imputat<br />

justitiam absque operibus,<br />

6 Há quem tem tropeçado nesta sentença: “sua fé é consi<strong>de</strong>rada para justiça”, e a tem<br />

aplicado mal, como se a fé em si mesma fosse a causa da justiça, e daí um ato meritório e<br />

não o caminho e meio <strong>de</strong> se obter a justiça. Sentenças con<strong>de</strong>nsadas não resistirão as regras<br />

da lógica, porém <strong>de</strong>vem ser interpretadas segundo o contexto e outras exposições.<br />

“Sua fé” significa, sem dúvida, sua fé na Promessa, ou no Deus que promete, ou naquele<br />

que, como se diz neste versículo, “justifica o ímpio”. Daí o que é crido, ou o objeto da fé,<br />

é o que é contado para justiça. Isso concorda com as <strong>de</strong>clarações <strong>de</strong> que “o homem é<br />

justificado por meio da fé” [3.28]; e que “a justiça <strong>de</strong> Deus” é “mediante a fé” [3.22]. Se é<br />

mediante a fé, então a própria fé não é aquela justiça.

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