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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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Capítulo 3 • 127<br />

consi<strong>de</strong>rada tanto ativa quanto passivamente, todavia os tradutores<br />

gregos indubitavelmente a tomaram num sentido passivo, contrariando<br />

o significado do profeta. 5<br />

5 Sempre que haja uma concordância material entre o grego e o hebraico, não <strong>de</strong>vemos<br />

agir <strong>de</strong> outra forma. Se o verbo κρίνεσται, como admitido por muitos críticos, po<strong>de</strong> ser<br />

tomado ativamente, e fosse assim feito para concordar com o hebraico, que razão po<strong>de</strong><br />

haver para tomá-lo em outro sentido? A única diferença real está numa palavra, entre<br />

νικήσης, “superaste”, e hkzt, “estás limpo”; mas o significado é o mesmo, embora as palavras<br />

sejam diferentes. Para superar ou vencer em juízo e ficar limpo em juízo equivale<br />

a mesma coisa. O paralelismo do hebraico requer que κρίνεσθαι seja um verbo na voz<br />

média, e tenha um significado ativo. As duas linhas no hebraico, como é amiú<strong>de</strong> o caso<br />

na poesia hebraica, contêm o mesmo sentimento em palavras diferentes, a última linha<br />

expressando-o mais <strong>de</strong>finidamente; <strong>de</strong> modo que ser ‘justificado’ e ser ‘purificado’ comunica<br />

a mesma idéia; e também “em tua palavra”, ou dizer rbdb, e “em teu juízo”, fpb.<br />

Em muitas cópias ambas essas últimas palavras estão no plural, <strong>de</strong> modo que a primeira<br />

seria estritamente o que é aqui expresso, “em tuas palavras”, ou, seja, as palavras que<br />

<strong>de</strong>claraste; e “em teus juízos”, ou, seja, aqueles que anunciaste, <strong>de</strong>vem ser plenamente<br />

traduzidas por “quando julgaste”.<br />

Comentaristas, tanto antigos quanto mo<strong>de</strong>rnos, têm se diferenciado sobre o significado<br />

do verbo em questão. Pareus, Beza, Macknight e Stuart o tomam num sentido ativo; enquanto<br />

que Erasmo, Grotius, Venema e outros sustentam o significado passivo. Drusius,<br />

Hammond e Doddridge a traduzem “quando conten<strong>de</strong>s em juízo”, ou “quando és convocado<br />

a juízo”; sem dúvida que o verbo tem tal significado, segundo Mateus 5.40 e 1<br />

Coríntios 6.1, 6. Neste caso, porém, <strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar especialmente o significado que<br />

correspon<strong>de</strong> ao mais próximo do original hebraico. Alguns têm mantido que “em teu juízo”,<br />

fpb, po<strong>de</strong> ser traduzido “ao julgar-te”; esta palavra, porém, não só seria incomum<br />

e dificilmente faz a frase inteligível, mas também <strong>de</strong>strói o paralelismo evi<strong>de</strong>nte das duas<br />

linhas. O versículo como um todo po<strong>de</strong> ser assim literalmente traduzido do hebraico:<br />

Contra ti, contra ti somente pequei;<br />

E diante <strong>de</strong> teus olhos fiz o que é mau;<br />

De modo que és justificado em tuas palavras,<br />

E puro em teus juízos.<br />

A conjunção ml admite ser traduzida <strong>de</strong> modo que; vejam-se Salmo 30.12; Isaías 41.20;<br />

Amós 2.7; e ὅπωσ em muitos casos po<strong>de</strong> ser assim traduzido; vejam-se Lucas 2.35; Filemom<br />

6; 1 Pedro 2.9. É o que Schleusner <strong>de</strong>signa έκβατικω̑ς, significando o resultado ou o<br />

acontecimento.<br />

Pareus conecta a passagem <strong>de</strong> forma diferenciada. Ele consi<strong>de</strong>ra a primeira parte do versículo<br />

como sendo parentética, ou como especificando o que é geralmente afirmado no<br />

versículo anterior, o terceiro; e com esse versículo ele conecta esta passagem; <strong>de</strong> modo<br />

que a tradução dos dois versículos ficariam assim:<br />

3. Pois minha transgressão eu conheço,<br />

E meu pecado está diante <strong>de</strong> mim continuamente –<br />

4. (Contra ti, contra ti somente pequei,<br />

E diante <strong>de</strong> ti eu fiz o mau),<br />

Para que possas ser justificado em tua palavra,<br />

E puro em teu juízo.<br />

Isso é certamente mais provável do que Vatablus e Houbigant propõem, os quais conectam<br />

a passagem com o segundo versículo: “Lava-me completamente” etc. Mas o sentido<br />

dado por Calvino é mais satisfatório.

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