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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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Capítulo 5 • 213<br />

7. Dificilmente alguém morreria por um justo. A razão me compele<br />

a expor a partícula γὰρ em sentido afirmativo ou <strong>de</strong>clarativo,<br />

antes que causativo, ficando assim o sentido: “De fato é uma ocorrência<br />

muito rara entre homens a morte <strong>de</strong> alguém em favor <strong>de</strong> um<br />

justo, embora ocasionalmente seja possível acontecer. Mas, mesmo<br />

admitindo que tal coisa seja possível, não se achará ninguém que<br />

esteja disposto a morrer por um ímpio, como Cristo o fez.” 8 Deste<br />

modo, a passagem emprega uma comparação a fim <strong>de</strong> ampliar o<br />

que Cristo fez por nós, visto não existir no seio da humanida<strong>de</strong> um<br />

exemplo tal <strong>de</strong> bonda<strong>de</strong> como a que Cristo nos <strong>de</strong>monstrou.<br />

8. Mas Deus prova seu amor para conosco. O verbo συνίστησι<br />

contém mais <strong>de</strong> um significado. O mais a<strong>de</strong>quado aqui é o que<br />

<strong>de</strong>nota confirmação. Não é o propósito do apóstolo <strong>de</strong>spertar-nos<br />

para ações <strong>de</strong> graças, e, sim, estabelecer a confiança e a segurança<br />

<strong>de</strong> nossas almas. Deus, pois, confirma, ou, seja, <strong>de</strong>clara que seu<br />

Crisóstomo se refere ao tempo da lei, e consi<strong>de</strong>ra a fraqueza aqui sendo a do homem<br />

sob a lei. Isso dá um significado enfático ao ‘fraco’, que <strong>de</strong> outra forma não parece ter, e<br />

é aprovado pelo que se diz em 8.3, on<strong>de</strong> lemos que a lei é fraca, porém fraca no que diz<br />

respeito à fraqueza da carne. Ao mesmo tempo é preciso observar que a maioria dos<br />

comentaristas, como Beza, conecta as palavras κατὰ καιρὸν, com a morte <strong>de</strong> Cristo, como<br />

tendo se concretizada “no <strong>de</strong>vido tempo”, <strong>de</strong>signada por Deus e pré-significada pelos<br />

profetas, segundo o que lemos em Gálatas 4.4.<br />

8 Calvino omitiu o que se diz do homem ‘bom’, por quem, diz-se, talvez alguém ousasse<br />

morrer. O ‘justo’, δίκαιος, é aquele que age segundo o que a justiça requer e segundo o<br />

que os rabinos dizem: “O que é meu é meu; e o que é teu é teu”, l lw yl yl; o ‘bom’,<br />

ἀσέβης, porém, é o bondoso, o benevolente, o beneficente, chamado bwf, em hebraico; que<br />

é <strong>de</strong>scrito por Cícero como alguém que faz o bem a quem ele possa fazer (vir bonus est<br />

is, qui pro<strong>de</strong>st quibus potest).<br />

Há aqui um evi<strong>de</strong>nte contraste entre essas palavras e aquelas empregadas nos versículos<br />

6 e 8, para <strong>de</strong>signar o caráter daqueles por quem Cristo morreu. Justo, δίκαιος, é o<br />

oposto <strong>de</strong> ‘ímpio’, ἀσέβης, que, por não adorar e honrar a Deus, é culpado <strong>de</strong> injustiça<br />

do mais grave gênero, e neste sentido <strong>de</strong> ser injusto se encontra em 4.5, on<strong>de</strong> lemos<br />

que Deus “justifica o ímpio”, ou, seja, aquele que é injusto por privar a Deus da homenagem<br />

que justamente lhe pertence. Phavorinus dá ἀθέμιτος, ilícito, injusto, como um <strong>de</strong><br />

seus significados. O que forma um contraste com ‘bom’ é pecador, ἁμαρτωλός, que às<br />

vezes significa perverso, vicioso, alguém que se entrega ao vício <strong>de</strong> fazer o mal. Suidas<br />

<strong>de</strong>screve ἁμαρτωλοί, como os que <strong>de</strong>terminam viver em transgressão, οἱ παρανομίᾳ συζη̑ν<br />

προαιρούμενοι; e Schleusner tem “scelestus – perverso”, “glagitiosus – cheio <strong>de</strong> malda<strong>de</strong>”,<br />

como sendo às vezes seu significado.<br />

Mas a <strong>de</strong>scrição avança mais, pois no versículo 10 a palavra ‘inimigos’, ἐχθροὶ, é introduzida<br />

a fim <strong>de</strong> completar o caráter daqueles por quem Cristo morreu. Eram não só ‘ímpios’, e<br />

portanto injustos para com Deus, e ‘perversos’, dados a todo tipo <strong>de</strong> males, mas também<br />

‘inimigos’, nutrindo ódio por Deus e <strong>de</strong>clarando guerra, por assim dizer, contra ele.

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