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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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Capítulo 11 • 461<br />

fé é produzir em nós o aviltamento e o temor. Este temor, 18 contudo,<br />

não significa, <strong>de</strong> forma alguma, algo contrário à certeza <strong>de</strong> fé. Não<br />

era o propósito do apóstolo que cultivemos uma fé vacilante, ou<br />

que se alterne entre certeza e dúvida, muito menos que produza<br />

em nós pânico ou ansieda<strong>de</strong>. 19<br />

Qual, pois, seria a natureza <strong>de</strong>sse temor? Como o Senhor põe<br />

diante <strong>de</strong> nós duas questões para que pon<strong>de</strong>remos sobre elas,<br />

as mesmas <strong>de</strong>vem produzir em nós um duplo estado mental. Seu<br />

intuito é que tenhamos sempre em mente a miserável condição<br />

<strong>de</strong> nossa natureza. E esta nada produz senão medo, fadiga, preocupação<br />

e <strong>de</strong>sesperação. Daí ser-nos realmente vantajoso que<br />

sejamos completamente humilhados e combalidos, a fim <strong>de</strong> que,<br />

finalmente, clamemos a ele. Mas esta consternação é fruto <strong>de</strong> um<br />

auto-exame, o qual alerta nossa mente para pôr sua confiança na<br />

benevolência divina e a permanecer tranqüila. Esta exaustão não<br />

nos impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfrutar a plena consolação em Deus, nem esta<br />

preocupação e medo <strong>de</strong>vem impedir-nos do cultivo da alegria e<br />

da esperança nele. Portanto, este temor <strong>de</strong> que ele fala é injetado<br />

como antídoto contra o orgulho <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhoso, visto como todas<br />

as pessoas reivindicam para si mais do que lhes é <strong>de</strong> direito, também<br />

se tornam irreverentes e, finalmente, se fazem insolentes em<br />

relação aos outros; então <strong>de</strong>vemos <strong>de</strong>senvolver o temor para que<br />

nosso coração não se encha <strong>de</strong> orgulho e venha a exaltar-se mais<br />

do que convém.<br />

Aqui Paulo, aparentemente, lança dúvidas quanto a nossa<br />

salvação, ao instar com os gentios a que tomassem cuidado, a<br />

18 “Não ter mente eufórica – ne animo efferaris”; μὴ ὑψηλοφρόνει; “não sentir a mente animada”,<br />

como em nossa versão, é a tradução literal.<br />

19 Alguns têm <strong>de</strong>duzido do que Paulo diz aqui a incerteza da fé e seu possível fracasso. Isso<br />

foi feito através <strong>de</strong> um equívoco do assunto manuseado pelo apóstolo. Ele fala não <strong>de</strong><br />

indivíduos, mas do mundo gentílico; não da fé viva, mas da fé professada; não <strong>de</strong> mudança<br />

interior, mas <strong>de</strong> privilégios externos; não da união da alma com Cristo, mas da união<br />

com sua Igreja. As duas coisas são totalmente diferentes; e extrair um argumento <strong>de</strong> um<br />

contra o outro é totalmente ilegítimo; equivale dizer que, como fé professada, ela po<strong>de</strong><br />

ser perdida; portanto a fé viva po<strong>de</strong> ser perdida.<br />

Agostinho, ao comentar Jeremias 32.40, diz: “Deus prometeu perseverança quando disse:<br />

‘Porei temor em seu coração, para que não se apartem <strong>de</strong> mim.’

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