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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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Capítulo 10 • 431<br />

possível objeção <strong>de</strong> alguém que po<strong>de</strong>ria basear seu argumento no<br />

que o apóstolo já <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong>clarado, ou, seja: que a Palavra sempre<br />

prece<strong>de</strong> a fé como a semente vem antes da planta. E assim chega à<br />

conclusão <strong>de</strong> que a fé segue sempre a Palavra pregada. Israel, que<br />

nunca vivera sem a Palavra, po<strong>de</strong>ria fazer tal ostentação. Portanto,<br />

era indispensável que Paulo <strong>de</strong>monstrasse, <strong>de</strong> relance, que muitos<br />

são chamados, mas que os mesmos não fazem parte do número<br />

dos eleitos.<br />

A passagem que citou, ele a extraiu <strong>de</strong> Isaías 53.1, on<strong>de</strong> o profeta,<br />

antes <strong>de</strong> apresentar sua famosa profecia sobre a morte e o reino <strong>de</strong><br />

Cristo, fala com espanto do ínfimo número <strong>de</strong> crentes, um número<br />

que lhe pareceu tão pequeno que o compeliu a clamar: “Quem creu<br />

em nossa notícia?” [Is 53.1], isto é, a Palavra que pregamos. Ainda<br />

que em hebraico o termo hWmv, shimuoe, signifique discurso [sermonem],<br />

14 num sentido passivo, a Septuaginta o traduziu por ἀκοήν; e<br />

a Vulgata, por auditum; contudo seu sentido é óbvio.<br />

Agora percebemos por que Isaías, num relance, admitiu esta objeção,<br />

ou seja: para alertar alguém <strong>de</strong> pressupor que on<strong>de</strong> a Palavra é<br />

pregada a fé necessariamente se faz presente. Não obstante, a seguir<br />

ele realça a razão, adicionando: “A quem foi revelado o braço do<br />

Senhor?” Com isso ele preten<strong>de</strong> ensinar que só quando Deus irradia<br />

em nós a luz <strong>de</strong> seu Espírito é que a Palavra logra produzir algum<br />

efeito. Daí a vocação interna, que só é eficaz no eleito e apropriada<br />

para ele, distingue-se da voz externa dos homens. Tal fato prova<br />

nitidamente a estupi<strong>de</strong>z do argumento <strong>de</strong> certos intérpretes que<br />

mantêm que todos são eleitos, sem distinção, visto que a doutrina<br />

da salvação é universal, e porque Deus convida a todos os homens<br />

para irem a ele, sem qualquer distinção [promiscue]. A natureza<br />

geral das promessas, por si só, não faz a salvação comum a todos.<br />

14 Ou, o que é ouvido; sendo um substantivo <strong>de</strong> m, ouvir, em seu sentido passivo, significa<br />

uma reportagem, uma mensagem ou qualquer coisa comunicada aos ouvidos dos homens.<br />

A palavra grega ἀκοή é usada em vários sentidos, significando o ato <strong>de</strong> ouvir [Mt<br />

13.14]; a faculda<strong>de</strong> da audição [1Co 12.17]; o órgão da audição, o ouvido [Mc 7.35]; e o que<br />

se ouve, uma palavra, uma notícia, como aqui e em João 12.38.

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