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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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190 • Comentário <strong>de</strong> <strong>Romanos</strong><br />

18. Abraão, na esperança, creu contra<br />

a esperança, para vir a ser o pai <strong>de</strong><br />

muitas nações, segundo lhe fora<br />

dito: Assim será tua <strong>de</strong>scendência.<br />

18. Qui præter (vel supra) spem super<br />

spe credidit, ut esset 16 pater multarum<br />

gentium, secundum quod<br />

dictum erat, Sic erit semen tuum.<br />

18. Abraão, na esperança, creu contra a esperança. Se adotarmos<br />

esta tradução, o sentido será: quando não havia razão alguma<br />

– aliás, quando toda a razão era contra ele –, todavia ele continuou<br />

crendo. Não há nada mais prejudicial à fé do que fechar os olhos<br />

do entendimento, <strong>de</strong> modo a buscarmos a substância <strong>de</strong> nossa esperança<br />

nas coisas que vemos. É possível também a leitura: “acima<br />

<strong>de</strong> toda esperança”, o que talvez seja mais apropriado, como se<br />

dissesse: por meio <strong>de</strong> sua fé, Abraão exce<strong>de</strong>ra muitíssimo a qualquer<br />

concepção que pu<strong>de</strong>sse ter ele imaginado. Se nossa fé não voar com<br />

asas celestiais, <strong>de</strong> modo a vermos muito além <strong>de</strong> todas as sensações<br />

da carne, apodreceremos nos lamaçais <strong>de</strong>ste mundo. Paulo usa o<br />

termo esperança duas vezes na mesma sentença. No primeiro caso,<br />

significa a esperança que po<strong>de</strong> originar-se da natureza e da razão<br />

carnal; no segundo, refere-se à fé que é dom <strong>de</strong> Deus. 17 O significado<br />

é o seguinte: quando se viu <strong>de</strong>stituído <strong>de</strong> qualquer base para esperar,<br />

como se existissem” – καὶ καλου̑ντος τὰ μὴ ὄντα ὡς ὄντα. A referência é evi<strong>de</strong>ntemente à <strong>de</strong>claração:<br />

“Eu te fiz o pai <strong>de</strong> muitas nações.” Isso não teve, pois, existência real; mas Deus<br />

o representa como já tendo existência. Às vezes são adotados significados artificiais,<br />

quando o mais claro e mais óbvio é ignorado.<br />

16 “Ut esset”: isto po<strong>de</strong> <strong>de</strong> fato ser traduzido <strong>de</strong> acordo com nossa versão, “para que ele<br />

viesse a ser”; mas o curso do comentário parece favorecer o outro ponto <strong>de</strong> vista, <strong>de</strong><br />

que ele creu que seria, e não que creu a fim <strong>de</strong> ser, ou que pu<strong>de</strong>sse ser o pai <strong>de</strong> muitas<br />

nações εἰς τὸ γενέσται ἀυτόν; “que ele seria” é a tradução <strong>de</strong> Hammond, Doddridge e Stuart;<br />

e <strong>de</strong> fato a que é consistente com o curso da passagem, e com o que está registrado em<br />

Gênesis. Wolfius diz que εἰς, aqui, não significa a causa final, mas o sujeito ou o objeto da<br />

fé e esperança; Abraão creu na promessa <strong>de</strong> que ele seria o pai <strong>de</strong> muitas nações.<br />

17 Este é um notável exemplo da amplitu<strong>de</strong> do significado que algumas palavras têm na Escritura.<br />

Aqui esperança, no primeiro caso, significa a base da esperança; e no segundo, o<br />

objeto da esperança. Assim a fé, no versículo 5 e em outros lugares <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada<br />

como incluindo seu objeto, a graciosa promessa <strong>de</strong> Deus; pois do contrário ela seria um<br />

ato meritório, a mesma coisa que o apóstolo repudia totalmente com respeito à justificação<br />

do homem. A fé, como a<strong>de</strong>rida à promessa <strong>de</strong> Deus <strong>de</strong> livre aceitação e perdão, só<br />

po<strong>de</strong>, na própria natureza das coisas, ser imputada para justiça; não é indispensavelmente<br />

necessário que o caminho, ou o meio, ou a causa meritória da aceitação e perdão, seja<br />

claramente conhecida e distintamente vista; a promessa graciosa <strong>de</strong> Deus é suficiente, <strong>de</strong><br />

modo que a fé pu<strong>de</strong>sse tornar-se uma fé justificadora.

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