27.05.2014 Views

Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Capítulo 4 • 167<br />

imprimir-lhes mais profundamente a consciência <strong>de</strong> que não <strong>de</strong>viam<br />

afastar-se do exemplo <strong>de</strong> seu pai.<br />

2. Pois se Abraão foi justificado por obras. O argumento 3 é<br />

incompleto e precisa ser posto na seguinte forma: “Se Abraão foi<br />

justificado por obras, então ele po<strong>de</strong> vangloriar-se em seu próprio<br />

mérito, porém não tem razão alguma <strong>de</strong> vangloriar-se na presença<br />

<strong>de</strong> Deus. Portanto, ele não é justificado por obras.” Assim, a frase<br />

porém não em relação a Deus constitui a proposição menor do<br />

silogismo, e a esta <strong>de</strong>ve acrescentar-se a conclusão que já expus,<br />

ainda que a mesma não esteja expressa por Paulo. Ele dá o título<br />

<strong>de</strong> ‘gloriar-se’ quando preten<strong>de</strong>mos ter algo propriamente nosso<br />

que no juízo <strong>de</strong> Deus mereça recompensa. Quem <strong>de</strong>ntre nós reivindicará<br />

para si a mínima partícula <strong>de</strong> mérito, quando o mesmo<br />

foi negado a Abraão?<br />

3. Pois, o que diz a Escritura? Esta é a prova <strong>de</strong> sua proposição<br />

ou hipótese menor, na qual ele negou possuísse Abraão<br />

alguma base para gloriar-se. Se Abraão foi justificado em razão<br />

<strong>de</strong> haver abraçado a munificência divina, mediante a fé, segue-se<br />

que ele não tem por que gloriar-se, visto que não traz nada propriamente<br />

seu exceto o reconhecimento <strong>de</strong> sua própria miséria<br />

que clama por misericórdia. O apóstolo está pressupondo que a<br />

justiça proce<strong>de</strong>nte da fé é o referencial <strong>de</strong> socorro e refúgio para<br />

o pecador que se acha <strong>de</strong>stituído <strong>de</strong> obras. Se houvesse alguma<br />

justiça proce<strong>de</strong>nte da lei ou das obras, então ela residiria no<br />

3 Epicheirema; em grego, ἐπιχείρεμα, um processo <strong>de</strong> raciocínio experimentado, porém não<br />

concluído. Não é necessário introduzir este gênero <strong>de</strong> silogismo, não é o caráter da Escritura,<br />

bem como <strong>de</strong> qualquer outro escrito, discutir assuntos <strong>de</strong>ssa forma.<br />

A palavra para ‘gloriar’, aqui, καύχημα, é diferente daquela <strong>de</strong> 3.27, καύχησις, e significa<br />

razão, motivo ou causa para gloriar-se, e é traduzida por Grotius “un<strong>de</strong> lau<strong>de</strong>m speret –<br />

pelo qual ele po<strong>de</strong> esperar louvor”; e por Beza e Piscator “un<strong>de</strong> glorietur – pelo qual ele<br />

po<strong>de</strong> gloriar-se.” Para completar a cláusula seguinte, a maioria repete as palavras ἔχει<br />

καύχημα – Mas ele não tem motivo para gloriar-se diante <strong>de</strong> Deus.” Vatablus apresenta outro<br />

significado: “Mas não com respeito a Deus”, ou, seja, com respeito ao que ele disse em<br />

sua Palavra; e este ponto <strong>de</strong> vista é confirmado pelo que imediatamente se segue: “Pois,<br />

o que diz a Escritura?” Neste caso, não há nada implícito. Que πρὸς θεόν é usado <strong>de</strong> uma<br />

forma semelhante torna-se evi<strong>de</strong>nte à luz <strong>de</strong> outras passagens: τα πρὸς θεόν – “coisas que<br />

pertencem a Deus”, ou, seja, à obra ou ao serviço <strong>de</strong> Deus. Veja-se Hebreus 2.17; 5.1.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!