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Comentário de Romanos

Comentário de João Calvino no livro de Romanos.

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Capítulo 9 • 397<br />

que as coisas que se acham contidas no secreto conselho <strong>de</strong> Deus<br />

<strong>de</strong>vessem ser submetidas ao crivo da censura humana. Tal mistério<br />

não há como ser explicado. Por isso ele nos proíbe <strong>de</strong> examinar <strong>de</strong><br />

maneira inquisitiva aquelas questões que frustram a compreensão<br />

humana. Nesse ínterim, contudo, ele mostra que, até on<strong>de</strong> é possível<br />

à pre<strong>de</strong>stinação divina manifestar-se, ela revela genuína justiça.<br />

Tomo a partícula usada por Paulo, εἰ δὲ, no sentido <strong>de</strong> que diremos<br />

se?, a fim <strong>de</strong> fazer <strong>de</strong> toda esta frase uma pergunta. O significado se<br />

fará ainda mais claro se lermos a partícula <strong>de</strong>sta maneira. A expressão<br />

<strong>de</strong> Paulo é elíptica e subenten<strong>de</strong> o seguinte: “Quem, pois, acusará<br />

a Deus <strong>de</strong> injustiça, ou o citará em juízo? Porque nada, senão a mais<br />

perfeita regra <strong>de</strong> justiça, <strong>de</strong>ve ser vista aqui.” 25<br />

Se preten<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r o pensamento <strong>de</strong> Paulo, então temos <strong>de</strong><br />

examinar quase cada palavra. Ele arrazoa assim: Há vasos preparados<br />

para a <strong>de</strong>struição, ou seja: nomeados e <strong>de</strong>stinados para a <strong>de</strong>struição.<br />

25 Os críticos têm <strong>de</strong> várias maneiras tentado suprir a elipse, mas o que aqui se propõe é<br />

muitíssimo aprovado. Beza consi<strong>de</strong>rava que a frase correspon<strong>de</strong>nte estava no versículo<br />

30, e consi<strong>de</strong>rava os versículos intervenientes como parentéticos: “E se Deus” etc. – “O<br />

que diremos, pois?” Grotius anexou: “Deus comete algum erro?” Elsner: “Ele não possui<br />

po<strong>de</strong>r?” E Wolfius: “O que po<strong>de</strong>s tu dizer contra Deus?” Stuart propõe repetir a pergunta<br />

no versículo 20: “Quem és tu?” etc. Alguns conectam este versículo com a pergunta no<br />

versículo 20, e incluem a última parte <strong>de</strong>le e o versículo 21 num parêntese. Qualquer<br />

forma que venhamos a adotar, o sentido é materialmente o mesmo. Tem-se sugerido também<br />

que εἰ δὲ substitui εἴπερ, posto que, visto que [2Ts 1.6; 1Pe 2.3]. Neste caso, não se faz<br />

necessário nenhuma apódose. Mas po<strong>de</strong>mos tomar εἰ no sentido <strong>de</strong> posto que, e δὲ como<br />

um ilativo, e traduzir os três versículos assim:<br />

22. Visto, pois, que Deus quis [ou, era a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus] mostrar sua ira e fazer<br />

conhecido seu po<strong>de</strong>r, ele suportou com muita paciência os vasos <strong>de</strong> ira, preparados<br />

para a <strong>de</strong>struição;<br />

23. e assim ele quis fazer conhecidas as riquezas <strong>de</strong> sua glória em prol dos vasos<br />

<strong>de</strong> misericórdia,<br />

24. a quem ele preparou <strong>de</strong> antemão para a glória, sim, nós, a quem ele chamou<br />

não só <strong>de</strong>ntre os ju<strong>de</strong>us, mas também <strong>de</strong>ntre os gentios.<br />

O verbo ἐστι, ou ν, é às vezes entendido como particípio, especialmente em hebraico;<br />

e καὶ tem o sentido <strong>de</strong> assim, ou então, em alguns casos [Mt 6.10; At 7.51; Gl 1.9]; e em<br />

outros casos, como diz Schleusner, sem ser precedido por qualquer partícula <strong>de</strong> comparação,<br />

como em Mateus 12.26 e 1 João 2.27, 28; mas εἰ, aqui, tem algo <strong>de</strong>sse caráter.<br />

O início do versículo 23 apresenta uma anomalia, se, como diz Stuart e outros, consi<strong>de</strong>rarmos<br />

‘querer’ ou vonta<strong>de</strong> como estando subentendido, como é seguido no versículo<br />

prece<strong>de</strong>nte por um infinitivo, e aqui por um subjuntivo. Mas, Beza, Grotius e Hammond<br />

parecem consi<strong>de</strong>rar o verbo ‘suportou’ como sendo aqui, por assim dizer, repetido, o que<br />

produz o mesmo sentido à passagem como aquele que Calvino lhe dá.

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